TREVO DE INHAÚMA – O LUGAR ONDE DEUS DISSE NÃO
fev
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“Pois os meus pensamentos são muito diferentes dos seus; a minha maneira de agir é muito diferente da sua”, declara o Senhor.
BR-040, sentido Brasília/DF para Belo Horizonte/MG, aproximadamente 5km antes de Sete Lagoas, está o trevo para Inhaúma, passei por ali a minha vida inteira vindo do Norte de Minas para BH.
Nunca tinha reparado aquele cruzamento antes da duplicação desse trecho da BR. Lembro-me que anos atrás, vi um carro parado aguardando para atravessar a 040 antes da duplicação, e sempre passei para lá e para cá, sem nem reparar aquele local.
Passei nele pela última vez há uns 15 dias, e me vieram lembranças. Dolorosas lembranças! Ali foi o local onde fiz a oração mais honesta de toda minha vida, ou a mais desesperada, ou a mais sincera, ou a mais egoísta, ou a mais culpada, nem eu sei! Só Jesus deve saber qual foi o tipo de oração ali realizada, Ele conhece meu coração melhor que eu mesmo.
O som de sirene de ambulância até hoje mexe comigo, me deixa inquieto, preocupado. Se estou dirigindo, dou um jeito de parar o carro e abrir caminho, se não estou, peço, peço não, xingo para saírem da frente.
Naquele início de noite, além do som da sirene, ouvia “vamos encontrar no trevo de Inhaúma”, “trevo de Inhaúma”, “trevo de Inhaúma, copiou?”. “Copiei”. Copiei também, sei onde é, mas já é quase Sete Lagoas!
De longe já vi a outra ambulância parada, um médico, enfermeira e motorista aguardando. “Não vamos mudar não, deixa ele aí”. “Vamos entubar”, “adrenalina”, “mede”, “vai, vai, vai”, “pega na minha bolsa azul na outra ambulância”.
E eu andava em círculos, olhava para o céu e pedia perdão a Deus, clamava em voz alta: “Deus, não deixa meu filho morrer, não deixa o meu filho morrer!”. Alguém se aproxima, pergunta o que é, e o socorrista manda a pessoa ir andando.
Todo procedimento não deve ter durado mais que alguns minutos, mas na minha memória parece que foram horas! “Deus, não deixa o meu filho morrer!”, “Levanta, Gabriel!”. Quanto mais eu orava, mais a minha fé aumentava. E eu pedia “Deus, não deixa o meu filho morrer, levanta, Gabriel. Você é forte, filho!”.
Um dos socorristas vem em minha direção e diz: “Seu filho está com sinais vitais, o doutor está fazendo o possível para salvá-lo, mas o caso dele é grave”. Nessa hora você nem foca no “mas”, foquei nos sinais vitais. Liguei: “Amor, ele está bem, está reagindo, vamos para Sete Lagoas agora”.
Então o motorista pergunta para enfermeira: “Como nós vamos?”. “Vamos no padrão”. E ele disse: “ok”. No dia não entendi nada, mas hoje eu entendo que o “vamos no padrão” era igual a vamos devagar, sem loucura, porque não dá para fazer mais nada pela criança.
Pouco tempo depois vejo os socorristas saindo da sala de atendimento e vem uma pediatra chorando em minha direção. Pensei comigo: “Não precisa falar nada, doutora, você está chorando porque meu filho morreu”.
Não peguei e nem li o laudo do IML, mas ele não fará diferença nenhuma, porque sei que as coisas se resolveram no trevo de Inhaúma, quando Deus disse não.
Por quê? Para quê? Como? Não há resposta, seres humanos não têm estrutura para essas respostas. Apenas entendemos que somos jardineiros cuidando de um jardim, e que o Dono do jardim pode recolher uma flor a qualquer momento.
“Pois os meus pensamentos são muito diferentes dos seus; a minha maneira de agir é muito diferente da sua”, declara o Senhor. (Isaías 55.8)
Não parei de orar depois de todos esses acontecimentos, muito pelo contrário, sem oração como eu converso com Deus? Minha fé aumentou, a certeza de que Ele controla todas as coisas na minha vida aumentou, a dependência Dele para viver aumentou. A vontade de ler a Bíblia todos os dias aumentou.
Às vezes é difícil orar? É, às vezes é difícil orar, algumas vezes é difícil louvar, mas, louvo. Ele conhece meu coração e é melhor eu louvar chorando, eu louvar bravo, do que não louvar.
Não percamos tempo com o que não podemos resolver, porque a vontade de Deus é boa, perfeita e agradável.
Quando bate aquela vontade de gritar, de correr pela rua, de rasgar as roupas, resta o quê? Orar, orar e orar, pedir o consolo de Deus. E ele vem, vem em ondas, que vão inundando o coração, acalma a alma.
Somente a oração nos permite continuar passando pelo trevo de Inhaúma, sem perder a esperança de um dia nos encontrarmos novamente.
Por Wallace Ferreira e Silva – Pai do Rafael, Miguel e Gabriel