MACHISMO NOSSO DE CADA DIA
As diferenças devem nos aproximar. Deve ser assim na criação. E quando as diferenças são intrínsecas, inerentes? Quando não podem ser arrancadas e estão em nós como nossas raças, cores e cabelos, peles, tatuagens e sexo?
A completude entre homem e mulher deixou de ser beleza na história da humanidade. O cosmos manifestado entre o encaixe perfeito da criação deixou de ser sincronia para se tornar antagônico. Virou caos.
Homens e mulheres se distanciaram, tornando suas diferenças em material bélico numa guerra dos sexos. Não mais se completam. Passaram a se expelir e enclausurar-se em tom de defesa.
Porém, em matéria histórica e física, o homem tem levado vantagem na narrativa, e no retorno do oprimido, quando este se torna opressor, as mulheres têm trazido um feminismo desequilibrado frente ao machismo histórico. O machismo nosso de cada dia.
Sim, somos machistas. Nossa sociedade é. Quando deveriam ser alvo do amor e defesa por parte do homem, as mulheres sofrem nas agressões e olhares dos homens numa maneira quase primata.
O patriarcalismo cabe como crítica. Não podemos negar que tivemos os alicerces das conquistas e colonizações direcionados pelas forças braçais e dominadoras dos homens, enquanto as mulheres em seu papel coadjuvante eram estupradas na alma e no corpo, ao mesmo tempo que sustentavam as famílias com sua força e delicadeza, em detrimento de si mesmas.
O machismo perpetua no abuso dos maridos em seus lares, e mesmo sendo fruto da queda, a vontade da mulher sendo dominada pelo homem no matrimônio, deve ser combatido como fruto da queda que é. Perpetua nas agressões, olhares e assobios, assim como nos papéis direcionados da sociedade, e ainda hoje são nascidas para serem as mulheres apenas “belas, recatadas e do lar”. Antes disso, sempre belas, recatadas e fortes, porém com seus destinos direcionados pela própria liberdade de escolha, não pela determinação déspota de uma sociedade em queda.
O machismo é sutil. Está na objetificação da mulher, na manipulação da mídia que coloca a mulher como a carne barata do mercado. Está na diferença salarial e no silêncio das agressões diárias presentes nas mais humildes comunidades e nas maiores mansões. Bendita Maria da Penha.
Há a crítica ao Cristianismo quanto à posição da mulher em relação ao homem. Não podemos esquecer das narrativas bíblicas apontando os abusos dos homens e da misericórdia de Deus em relação às mulheres, bem como a condenação dos homens.
A organização estrutural de um lar, quando Deus coloca o homem como cabeça e a esposa como auxiliadora de maneira alguma é em situação favorável ao varão em relação a mulher. Antes disso, deve ser entendido com papéis que se completam. Em um julgamento honesto, tanto as Escrituras quanto o próprio Evangelho é absolvido e mostra a verdade do tratamento de Jesus na dignidade das mulheres.
Foi em Deus que Sara foi preservada da covardia de Abraão, e também em Deus a salvação de Agar. Foi em Jesus que a Samaritana, mulher excluída e experimentada foi incluída e tratada com dignidade. Foram as mulheres que tomaram também a proeminência nos discípulos de Jesus e foi através delas que seu ministério teve o alicerce de sustento.
Foi através da Igreja que mulheres puderam ter voz nas praças e, pela força no Espírito Santo, passaram a ser vistas como iguais. É através da história do Cristianismo que vemos a mulher sair dos locais escuros da cena do mundo e vir para os holofotes da vida social, como as grandes Catarina de Bora, Susana Wesley, Edith Schaeffer, e as próprias personagens das Escrituras.
Ana, Maria Madalena, Maria mãe de Jesus, Marta, Lídia não são apenas pessoas que preencheram a narrativa bíblica. Antes disso, foram incluídas em um tempo onde a mulher não entraria em um livro de religião como protagonista em uma história de propagação de uma fé.
A pecha que querem dar à igreja não cabe. Cabe à sociedade, não a nós. Estamos buscando refletir a vontade e a estrutura de Deus à família e sociedade.
Como todo oprimido que passou a vencer e ter voz, enfrentamos nesta fase da história o desequilíbrio do feminismo, que outrora lutou com dignidade pelos direitos das mulheres, hoje se transforma em misandria.
Não fica apenas a luta pelos direitos e igualdade de valores, mas se transformou numa guerra que encampa setores virtuais e reais, e traz para dentro da igreja uma bandeira que não é nossa.
Cremos que pelo evangelho há igualdade. Que pelo evangelho, homens e mulheres se unem não apenas no prazer de ser uma só carne, mas também na alegria de glorificar a Deus com a vida em harmonia entre os gêneros e o serviço à comunidade da fé.
Homens e mulheres são maravilhosamente diferentes, porém homens e mulheres são valorosamente iguais. Deus é perfeito, assim como sua Criação. “No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem, independente da mulher. Porque, como provém a mulher do homem, assim também o homem é nascido da mulher; e tudo vem de Deus.” (1 Co 11.11-12)
Pr. Bruno Barroso
Pastor Auxiliar