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Revista

“Aproveitem cada minuto”

Em tom de alerta e desafio, quase que de desabafo, o psicólogo e terapeuta familiar Carlos Catito fala dos desafios da paternidade hoje e como os pais podem e precisam ser mais presentes e participativos.

MARCELO FERREIRA     |   Jornalista – oitava@oitavaigreja.com.br

O título de sua obra faz jus à máxima popular de que “é de pequenino que se torce o pepino”. Ou biblicamente falando: “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.” (Pv. 22.6). Mas como agir quando esses “pimpolhos”, melhor dizendo, esses “pepinos” insistem em permanecer torcidos e/ou fora do caminho? E a questão que se coloca num contexto assim é essa: Por que isso acontece? Culpa da metodologia ou da tão (mal) falada índole?
É disso que trata o psicólogo, terapeuta familiar, mestre e doutor em psicologia, Carlos Tadeu Grzybowski, o Catito, em sua obra pra lá de sugestiva, intrigante diríamos, Pais Santos, Filhos Nem Tanto – A trajetória de um pai segundo o coração de Deus (Ed. Ultimato, MG). O livro foi escrito a duas mãos, uma vez que tem a participação de sua esposa, Dagmar FuchsGrzybowski, também psicóloga e terapeuta familiar. Nessa entrevista que nos concedeu com exclusividade, Catito dá mais detalhes de sua obra, mas destrincha essa tão delicada relação de pai e filhos a partir da história do personagem bíblico Davi (de cuja descendência viria Jesus), com a deixa de alerta quanto ao papel sim dos pais (homens) e a palavra final especial a eles nessa que é uma data pra lá de especial: o Dia dos Pais.
Carlos Catito e Dagmar FuchsGrzybowski coordenam o Ministério Eirene no Brasil, uma associação internacional de raízes latino-americanas, sem fins lucrativos, de profissionais cristãos que trabalham em prol do desenvolvimento, fortalecimento e defesa da saúde integral da família no Brasil, na América Latina e no mundo (eirene.com.br). Casados, ambos são pais de dois filhos, e recentemente comemoraram bodas de prata. Eles são membros de uma igreja batista em Curitiba (PR). Além de Pais Santos, Filhos Nem Tanto, Catito é também autor de Como Se Livrar de Um Mau Casamento, Macho e Fêmea Os Criou – Celebrando a Sexualidade, De Bênçãos e Traições e Família, Crise e Crescimento. Segue então a entrevista:

A julgar pelo título de seu livro, a iniciativa de escrevê-lo se deu justamente por sua lida com seus filhos?

Carlos Catito: Não! Graças a Deus, meus filhos, hoje casados e já com filhos (lindos netos), sempre andaram nos caminhos da fé, e assim permanecem até hoje, nunca tendo me dado nenhum problema. Salvo os naturais do processo de crescimento e independência!

Considerando também o título de sua obra, o senhor desmistifica essa máxima de que “filho de peixe, peixinho é”, ou seja, que nem todo filho de crente será tão crente como se espera que seja, ainda que os pais se esmerem nisso. É por aí?

Catito: O foco maior é perceber como pessoas – como Davi (o personagem bíblico) no caso – podem focar suas vidas em prol do Reino e acabarem “esquecendo” de cuidarem de sua própria casa. Filhos seguem o exemplo dos pais, mas não somente o exemplo externo – também o que “veem” no mais íntimo das relações – que é o que os de fora não veem!

Família com foco e objeto de atenção: Carlos Catito Tadeu Grzybowski e sua esposa, Dagmar FuchsGrzybowski, são Psicólogos com especialização em Terapia Familiar Sistêmica.

Em tempos hoje em que o conceito família, no sentido tradicional, parece estar sendo questionado, o que considera o maior desafio quando se trata de educar filhos?

Catito: O maior desafio é não se deixar seduzir pelas “muitas vozes” da sociedade que nos chamam para a sedução do “sucesso”, do “patrimônio”; da “situação de conforto do futuro” e nos afastam daquilo que REALMENTE é importante: o brincar juntos, o falar de valores e partilhar experiências, o partir o pão ao redor da mesa!

Agora mais particularmente em relação aos pais, aos homens, que avaliação faria deles hoje no contexto da criação dos filhos e na relação com a esposa e no casamento, num comparativo com idos anteriores, como na sua época por exemplo?

Catito: Um dos principais diferenciais entre épocas é o conceito de tempo, de lazer e de desfrute de vida. O computador, por exemplo, é um dos maiores “ladrões de tempo” do convívio familiar – e com essa maravilhosa/maldita máquina, não tivemos que conviver. O lazer era desfrutado com coisas singelas, como uma lata cheia de areia e com um furo por onde se passava um barbante e estava feito “um carro”. Hoje o conceito de lazer se reduz quase que exclusivamente a passeios em shoppings. Um desafio que faço às famílias que vêm ao meu consultório é descobrirem atividades interessantes e divertidas para se fazer num final de semana gastando menos de vinte reais. Alguns acham isso impossível.

É cada vez crescente o número de jovens e até adolescentes que se veem na missão de pai sem preparo algum, o que contribuiria para o risco de perpetuação do problema, pois teríamos futuros filhos “sem pais” que um dia se verão na mesma situação de seus pais. O que diria a respeito?

Catito: Esse é um espaço onde a igreja cristã poderia faze TODA a diferença! Que tal elaborarmos cursos para preparo de uma paternidade saudável? Dirijo uma organização, a EIRENE do Brasil (eirene.com.br), que há mais de 30 anos tenta suprir esta lacuna.

Casado ou não, qual o maior desafio para os pais hoje e como eles podem lidar com isso e superá-los?

Catito: Creio que o maior desafio é mudar a percepção de valores, renovar a mente (Romanos 12.2), dando importância maior à paternidade que às redes sociais virtuais, por exemplo. Dizem que os índios norte-americanos só tomavam uma decisão depois de avaliarem qual seria a consequência desta até a sétima geração vindoura. Hoje a maioria dos pais não pensam nem nas consequências para a geração seguinte. Se assim, nas festas em nossas igrejas as pessoas não jogariam lixo no chão, por exemplo.

Em sua opinião, na sua lida com os filhos, o que é ou seria mais desafiador: ser homem, referência masculina, ou ser pai no sentido de ensinar e apontar caminhos?

Catito: Para mim não existe a segunda sem a primeira ou vice-versa.

Em sua avaliação, a questão da alta criminalidade está relacionada direta ou indiretamente na relação dos pais, homens, com os filhos?

Catito: Não. Está relacionada com a desestruturação familiar promovida pelo modelo econômico mundial, que valoriza o TER e o INDIVÍDUO e não o grupo. Quanto mais individualismo, mais consumo e mais a economia cresce. Até quando?

O MAIOR DESAFIO É NÃO SE DEIXAR SEDUZIR PELAS “MUITAS VOZES” DA SOCIEDADE QUE NOS CHAMAM PARA A SEDUÇÃO DO “SUCESSO”, DO “PATRIMÔNIO”; DA “SITUAÇÃO DE CONFORTO DO FUTURO” E NOS AFASTAM DAQUILO QUE REALMENTE É IMPORTANTE

Acerca dos pais (homens) cristãos especificamente, eles têm cumprido com seu papel na educação dos filhos, mais precisamente filhos homens? Porque a queixa de negligência e/ou omissão dos homens para com a família e os filhos parece ser generalizada, seja de famílias cristãs e não cristãs. E no caso de cristãs, seria algo então mais grave ainda.
Catito: Os pais que frequentam as igrejas precisariam ser mais “cristãos” e menos “mamonistas” (Mateus 6.24 ). O compromisso com o Evangelho deve produzir uma transformação ética. Isso se vê pouco hoje em dia nas igrejas. Basta perguntar quantos pais “gastam” (palavra horrível neste caso) tempo lendo histórias bíblicas ou mesmo contos infantis que tenham bons valores para seus filhos à noite na hora de dormir. Pais que “terceirizam” a educação cristã de seus filhos para as escolas dominicais correm o sério risco de terem filhos ateus!

Que recado deixaria a todos os pais, cristão e não cristãos, em relação ao seu papel.

Catito: A vida é cheia e imprevisibilidades. Não temos controle sequer sobre o minuto seguinte. Logo, aproveitem cada minuto para desfrutar com seu filho e passar a ele o que você tiver de melhor e que possa refletir até a sétima geração!

Uma palavra final especial aos pais por conta do Dia dos Pais.

Catito: Viva intensamente esse dia todos os dias do ano!