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500 anos, uma só fé

Nesses tempos de comemoração dos 500 anos da Reforma Protestante, muito se tem falado das Cinco Solas, as mencionadas, mas nem sempre bem conhecidas, afirmações que sustentaram a teologia reformada ao longo dos séculos. Diferente do que muitos imaginam, elas não foram elaboradas nem por Martinho Lutero nem por João Calvino, apesar de não ser difícil encontrá-las nos escritos teológicos de ambos afirmações que viriam a impulsionar esse pensamento.

As Cinco Solas (“sola” significa “somente”, em latim) foram organizadas, na forma como as conhecemos, já no Século XX, mas carregam em si uma contraargumentação à teologia católico-romana combatida pelos primeiros reformadores, ainda no início da Idade Moderna. Os cinco slogans refletem bem as doutrinas pilares da Reforma que combatiam os desvios do romanismo medieval, sendo comumente organizados como segue:

Sola Scriptura (Só a Escritura)

Sola gratia (Só a graça)

Sola fide (Só a fé)

Solus Christus (Só Cristo)

Soli Deo gloria (Glória somente a Deus)

Vejamos o que cada uma sustenta:

  • Sola Scriptura

Ao afirmar que somente as Escrituras são nossa referência de vida, doutrina e autoridade, declarouse que a tradição da igreja, o Papa (ou qualquer outro líder religioso), os concílios ou outra fonte à parte da Bíblia não têm o caráter de autoridade no estabelecimento da verdade. Apesar de a própria Bíblia reconhecer o papel, por exemplo, da autoridade eclesiástica dos presbíteros, ela não está, de modo algum, em pé de igualdade com as Escrituras. Veja 2 Timóteo 3.14-17.

  • Sola gratia

A expressão ‘só a graça’ afirma que o ser humano não tem condições de fazer nenhuma reivindicação diante de Deus, seja para o que for. Na verdade, a única retribuição devida a nós é a punição pelo pecado. Assim, se Ele deseja salvar pecadores, é por Sua única e exclusiva graça. Ninguém se salvaria se não fosse a ação regeneradora do Espírito Santo, movida pela pura graça divina. Ao insistir nessa doutrina, os reformadores negavam qualquer possibilidade de salvação por meio de artifícios como missas, doações, boas obras que, supostamente, trariam a pessoa à fé em Deus. Veja Efésios 1.3-8.

  • Sola fide

O primeiro formato das ‘solas’ na Reforma era que “justificação é só pela graça, somente pela fé, apenas por Jesus Cristo”. Para os reformadores, a justificação pela fé era a coluna na qual a igreja se apoiava. Era a principal matéria do cristianismo porque envolvia o que uma pessoa precisava entender para a salvação, que flui da graça de Deus e é acolhida pelo indivíduo não pelo que ele tem ou faz, mas ‘só pela fé’. Como acontece com a graça, nada mais é necessário da parte do homem para se apoderar da salvação, como pagamento de indulgências, sacrifícios ou qualquer outra ação. Veja Gálatas 3.6-11.

  • Solus Christus

Para os reformadores, o desvio mais grave da igreja cristã medieval foi tirar Jesus Cristo da centralidade da fé bíblica, acrescentando não só a justiça humana pessoal à obra da salvação, mas também adicionando mediadores humanos, como Maria e os inúmeros santos. Essa afirmação mostra que a salvação foi adquirida, única e exclusivamente, pela obra mediadora de Jesus Cristo, ao se entregar em sacrifício pela humanidade, morrendo na cruz. Sua vida humana sem pecado, Sua divindade e Sua expiação substitutiva fazem-no suficiente e único para nossa justificação, e qualquer ‘evangelho’ que falha em afirmar isso é um falso evangelho, sem capacidade de salvar. Veja 1 Timóteo 2.5-6; Colossenses 1.13-18.

  • Soli Deo gloria

Cada uma das quatro primeiras solas deságua na última: glória somente a Deus. É o que o apóstolo Paulo quis dizer com “a Ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11.36). Essas palavras seguem de forma natural as anteriores, “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas”, pois não há nenhuma boa dádiva que não venha das mãos de Deus, o que nos leva à conclusão direta que só o Senhor é digno de receber tal glória. Veja 1 Coríntios 10.31; 1 Pedro 4.11; Apocalipse 1.6; 7.12; Efésios 3.21.

Por fim, uma outra frase muito popular nas igrejas reformadas é “Igreja Reformada, sempre se reformando” (Ecclesia reformata semper reformanda), atribuída a Agostinho de Hipona, referindo-se à convicção de que a igreja deve continuamente se examinar a fim de manter puras tanto a sua doutrina quanto sua prática cristã.

Nesse espírito, somos chamados a não só conhecermos as Cinco Solas da Reforma, mas caminharmos em uma constante busca de uma correção nos princípios doutrinários, mantendo acesa a fé prática e contemporânea dos reformadores, que mudou para sempre a história da humanidade, no poder de Cristo. Soli Deo Gloria!

 

Pr. Luís Fernando Nacif Rocha

Pastor Auxiliar