Menu

Estudos e artigos

UMA ANÁLISE SOBRE: DIVERTIDA MENTE 2

O filme Divertida Mente 2 conta a história de Riley, uma adolescente empolgante e filha única em um lar tradicional, que enfrenta uma fase de muitas mudanças emocionais e sociais. Ao ser chamada para fazer um teste em um novo time de hóquei, ela se vê lidando com transformações significativas, como mudanças nas amizades escolares, o que lhe traz diversos desafios. Sentindo-se sozinha e confusa, Riley precisa tomar decisões difíceis, que geram consequências sérias. O filme narra esse período de sua vida e mostra de forma lúdica a mente de uma adolescente nesse contexto.

As ilhas mentais mostradas no filme são zonas de importância na vida dela, demonstrando ilustrativamente seus interesses e impressões pessoais. Gostaria de destacar a “ilha da família”. No primeiro filme, quando Riley ainda é criança, essa ilha aparece mais próxima do painel de controle. Já no segundo, a “ilha da amizade” cresce e acaba escondendo o lugar pertencente à família. Uma reflexão interessante é que é natural que os filhos se distanciem afetivamente da família durante a adolescência; é necessário passar por isso para desenvolver a autonomia e o senso de mundo próprio. Por isso, é um período de “lutos parentais”. Os pais precisam aprender a lidar com o distanciamento do filho, aceitando que ele está em uma nova fase, sem deixar de ser importante em sua vida, mas de forma diferente. Pais, aproximem-se sem invadir, afastem-se sem abandonar. Provérbios 22.6 ensina que, quando a criança está com sua base bem estruturada, no período da adolescência ela seguirá os princípios.

No filme, o botão da puberdade é ativado, forçando Riley a sentir as coisas de forma diferente. 1 Coríntios 3.2 diz que precisamos crescer; não podemos ficar no “leite” para sempre, é necessário se nutrir de maneira sólida. O perigo, mostrado no filme, é que ela ainda não se adequou a essas mudanças e as emoções chegam de forma mais intensa e descontrolada. Vale notar que as novas emoções ainda não chegaram. Todo processo de mudança é também um processo destrutivo; é preciso reconstruir, recomeçar, ressuscitar… e assim deve ser a vida cristã.

As novas emoções surgem, mas antes gostaria de falar das antigas. Durante o primeiro filme, entendemos que todas as emoções são necessárias na vida de Riley, como na nossa e na do seu filho. Isso significa que não podemos cair na ilusão de que o bom cristão deve viver sempre alegre e não pode sentir as demais emoções. A alegria nos une como corpo de Cristo e nos faz festejar por tudo aquilo que Deus nos deu. Mas Jesus, nosso Deus, que não pecou, sentiu todas as emoções e, em alguns momentos, de forma muito intensa, como ao suar sangue (Lucas 22.44). Ele sabia que o que o esperava era desamparo por parte de Deus Pai (Mateus 27.46). O medo é normal em tempos de muitas mudanças, tranquilize seu filho, não minimizando seus sentimentos, mas trazendo segurança e proteção para ele.

As demais emoções também apareceram: Jesus desprezava (olha a nojinho aí) o pecado e a conduta dos fariseus durante Sua caminhada nos evangelhos – repare que tal desprezo era sobre a conduta e o pecado, e não sobre as pessoas. Essa emoção mostrava que Jesus, sendo Deus, não poderia suportar o pecado, pois era Santo. O nojo nos faz se afastar daquilo que pode nos contaminar e nos fazer mal. Ensine-o a não aceitar o pecado, mas também a exercer empatia pelo pecador.

A raiva também aparece quando Jesus pega o chicote e expulsa todos que estavam fazendo comércio no templo (João 2.15); nesse momento, foi necessário que a raiva aparecesse para que a autoridade e a justiça de Deus fossem reveladas. A raiva carrega consigo um senso de justiça; por meio dela, podemos nos posicionar. No entanto, ela pode aparecer de forma destrutiva. Faça uma orientação com acolhimento, mas também impondo limites.

E, por fim, a tristeza vem à tona sempre que Cristo se compadecia dos necessitados, inclusive de seu próprio amigo Lázaro, por quem chorou ao saber de seu falecimento (João 11.35). De acordo com estudos em neurociência, é comprovado que a tristeza é a única emoção que tem a capacidade de ativar uma região pré-frontal do cérebro, responsável pela autorreflexão. Interessante, pois Salomão, em toda sua sabedoria, diz em Eclesiastes 7.2-4 que é melhor a tristeza do que a alegria, pois é por meio dela que paramos de viver o fútil e os prazeres terrenos para nos concentrarmos naquilo que realmente importa. Sim, a tristeza e somente ela nos proporciona essa mudança de perspectiva radical. Não iniba seu filho de sentir tristeza; é importante para ele aprender a lidar com a frustração e saber que pode expressar seu sofrimento sem ser julgado ou se sentir constrangido.

Agora sim, as novas emoções: vou começar pela ansiedade. Essa emoção nos faz preparar e planejar para o futuro algo que realmente precisamos. Mas, como diz em Filipenses 4.6, a ansiedade pode até passar pela nossa caminhada, mas não devemos “andar ansiosos” e deixá-la nos dominar; afinal, andar ansioso é nos colocar no controle da nossa própria vida e, nesse controle, há espaço apenas para um: eu ou Deus. Ensine ao seu filho a ter responsabilidades, mas também a exercitar confiança em Cristo.

A inveja, a segunda nova emoção apresentada, já foi nomeada de uma forma que pode causar espanto, pois gera uma conotação muito negativa. Creio que “admiração” cairia melhor. Sabe aquela figura em que você se espelha? Como Paulo fala em 1 Coríntios 11, para que o povo o imitasse. O problema dessa emoção é quando ela se torna idolatria. Foi engenhosa a forma pensada para personificar e encorpar cada emoção, desde as cores até os detalhes do corpo. A inveja, em específico, era a menor de todas e com os olhos grandes, o que nos diz que, quando somos dominados por essa “emoção”, nos colocamos como inferiores aos outros e cobiçamos aquilo que Deus deu ao outro, o que se torna pecado. Valide seu filho e tome cuidado com as comparações, evite compará-lo com outra pessoa.

A vergonha, mencionada em Apocalipse 21.8, diz que os tímidos não herdarão o Reino de Deus. Seria essa emoção condenatória? O que está sendo falado nessa passagem é que não podemos nos envergonhar do Evangelho, e não da dificuldade de falar em público, por exemplo. Assim, é necessário avaliar o nosso coração sobre a proporção com que essa emoção tem nos afastado do propósito da igreja de espalharmos o Evangelho. Respeite seu filho e tome cuidado com a exposição indesejada; pergunte a ele como se sente.

E, por último, o tédio. Essa emoção nos traz a consciência daquilo que gostamos e do que não nos interessa, mas é uma emoção que semeia egoísmo e preguiça no nosso coração, caso não seja bem cuidada. Em Provérbios 6.9-11, fala-se sobre a consequência de se render a essa emoção. Pais, entendam que seu filho é diferente de vocês; seus gostos e mentalidades são diferentes também. Aprendam a colocar equilíbrio entre o que vocês desejam e o que ele deseja. Ensine-o que, por vezes, precisamos sacrificar nossas vontades, mas não podemos acreditar que devemos sempre nos sacrificar.

Por fim, precisamos, como cristãos emocionalmente saudáveis, acolher nossas emoções e preservar nosso senso de si, tanto naquilo que foi bom quanto naquilo que foi ruim. Afinal, nossa história é repleta de situações boas e ruins. Ignorar as memórias ruins é tão prejudicial quanto não reconhecer as boas. Precisamos estar bem resolvidos com nossa história. À medida que entendemos a graça de Deus, fluímos na cultura do perdão e nos humilhamos e reconhecemos que precisamos de ajuda. Pais, nem sempre será fácil acolher as emoções de seu filho. Por vezes, vocês também podem estar emocionalmente abalados, o que poderá dificultar ainda mais tal acolhimento. Lembrem-se de que vocês precisam ser referência para seus filhos. Mas não se cobrem demais. Assim como seu filho tem suas lutas e sua história, vocês também têm. Só conseguirão ajudar efetivamente seu filho quando estiverem bem resolvidos consigo mesmos. Busquem orientação parental e materiais relacionados caso necessário. Buscar ajuda não é sinônimo de incompetência; é aceitar que somos limitados. Ser espiritualmente amadurecido não significa ser emocionalmente saudável. Da mesma forma que você entende que a causa da sua gripe não é porque você está orando pouco, a depressão e outras doenças mentais e emocionais devem ser pensadas assim.

Buscar ajuda de psicólogos ou psiquiatras não diminui a sua fé, mas complementa o cuidado com a saúde mental e emocional. Não negligencie cuidado ao seu filho e sua família por ignorância e preconceito.

Davi Araújo – Psicólogo (CRP: 04/69476) e membro da Oitava