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RÚSSIA, O PAÍS DA COPA DO MUNDO 2018

O Pr. Marcelo Maurício Santos, a esposa Nilbe e as filhas Jéssica e Marcela, serviram na Rússia por muitos anos, tendo sido missionários enviados em parceria com a Oitava Igreja. O Conselho Missionário conversou com o pastor sobre o perfil do país e essa nova oportunidade para evangelização.

Como foi o tempo em que serviu na Rússia com sua família e quais são os desafios de religião, cultura e língua?

Foram quase 15 anos somando Rússia e Uzbequistão (ex-República Soviética), com ministério de plantação de igrejas, tradução das Escrituras e treinamento de lideranças. Os desafios foram:

– Religião ortodoxa (catolicismo oriental) com seus próprios Santos, liturgia patriarca e Bíblia com 14 livros apócrifos, que vê os protestantes como seita. Na cosmovisão russa, se você é russo, logo é ortodoxo, que no pós comunismo virou religião oficial.

– Os comunistas, cujo cerne da dialética marxista é Deus e a vontade de ser feliz inventada pelo homem, a religião é o ópio do povo, como falou Zaratustra – “Deus está morto”. Saudosismo do passado associado à falta de conhecimento de Deus, de um regime totalitário que durou quase um século, não permitiu que a Reforma Protestante passasse pela Rússia e que ainda hoje se constitui em um obstáculo ao avanço do Evangelho.

– Atuação da máfia russa e sua violência intimidatória contra os estrangeiros e, dentre eles, os missionários. O regime governamental que aliado ao patriarcado de Moscou, criou um novo tipo de perseguição burocrática com sua política de leis religiosas e concessão de visto por curto períodos para missionários.

– A cultura rica, linda e matriarcal, com modelos familiares em que a mulher desempenha o papel de chefe, a mentalidade materialista se contrapondo às bênçãos do Reino dos céus, a ênfase na beleza e status social. Devolver ao homem a dignidade é um dos desafios da evangelização na Rússia.

– A língua russa é linda, rica e complexa, particularmente não tive grandes dificuldades em seu aprendizado, mas reconheço que não é à toa que quando a coisa está difícil no Brasil, nós dizemos: “a coisa está russa”. Isso tem a ver com o modo de vida russo, o frio, as guerras e a estrutura da língua russa, bem como os outros 102 idiomas falados dentro da Federação Russa, com seus 11 fusos horários diferentes.

Como funcionava o projeto GOL e como está hoje?

Em países com proibição ou restrições ao evangelho, o esporte é uma ferramenta de linguagem universal para evangelizar e discipular. Assim, o Projeto Gol é uma escolinha de futebol com treinos táticos, técnicos e físicos, no qual atuamos com divisão de base tanto entre amadores como profissionais, para evangelizar e discipular, cujo lema é: de Bíblia na mão e com a bola no pé. O evangelho driblando as dificuldades para marcar o gol de placa entre os perdidos da Rússia. Na esfera profissional, o Projeto Gol atua como capelania esportiva dando apoio e evangelizando atletas profissionais. Na esfera amadora, o projeto continua na Rússia e em outras ex-repúblicas, já que foram formados treinadores russos que pudessem dar continuidade ao trabalho.

Quais são as oportunidades da Copa na Rússia para avanço do Evangelho?

São boas. Apesar do evangelismo em público ser considerado infração contra lei, sempre há abertura para o testemunho pessoal e para atividades de cunho esportivo com intuito evangelístico. Pelo fato do país estar na atmosfera do futebol, pelo fluxo de estrangeiros que o país recebe. Muitas igrejas estão aproveitando a Copa para evangelizar com novos testamentos em linguagem esportiva e com testemunhos de atletas cristãos.

Como acontece seu trabalho de tradutor do russo entre jogadores e dirigentes?

A princípio, foi com intuito de evangelizar, diante das dificuldades dos inúmeros ataques a profissionais e suas famílias, que nos jogos e treinos têm intérprete, mas no dia a dia não. Por isso, eles precisavam de ajuda. Eu fazia todo tipo de tradução para eles. Em troca, os esportistas frequentavam o projeto Gol, doavam material esportivo, autografavam Bíblias e literaturas evangelísticas. Fazia tradução junto à imprensa que vinha fazer a cobertura desses atletas. Assim, eu não pagava por divulgação em jornais, TVs e revista a nível nacional, por causa da presença desses jogadores profissionais visitando o projeto Gol. Os atletas também participavam de reuniões e cultos, nos quais muitos conheceram a Cristo.

No Uzbequistão, eu fui contratado para ser intérprete tradutor do Rivaldo e do técnico Felipão, onde atuei por dois anos. Nesse caso, eu era funcionário de clube profissional e acompanhava o time em todos jogos dentro e fora do país. Como era proibido ser cristão lá, foi a maneira de entrar no país onde paralelamente ao trabalho no clube, eu fazia o trabalho missionário com os atletas, familiares, comissão técnica e com a igreja perseguida da Ásia Central.

Vai servir na Copa 2018?

Indiretamente sim. Atuarei na coordenação para os projetos dos Atletas em Ação da Rússia durante a Copa do Mundo e usarei videoconferência no trabalho de preparação. Diretamente, ainda estou aguardando, pois embora tenha convite, a ideia é viajar com toda família para a Rússia, visitar os campos paralelamente com as igrejas que plantamos e irmãos e amigos, em férias missionárias em família. Minhas filhas são russas e estão muito desejosas de voltarem ao país, após esses seis anos que não estamos morando lá. Mas os custos da passagem são muito elevados, seriam R$ 20 mil para os quatro viajarem para Rússia e até agora nós só conseguimos levantar R$ 10 mil. Mas se for da vontade de Deus, nós iremos para lá em julho.