Publicação n. 19
nov
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Cássio Augusto Nunes Reis
Cássio Augusto Nunes Reis
Depravação total do gênero humano
(ou, em termos filosóficos, a banalidade do mal).
Jonas Matos
Disse-lhe, pois, o Senhor:
“As acusações contra Sodoma e Gomorra são tantas
e o seu pecado é tão grave
que descerei para ver se o que eles têm feito
corresponde ao que tenho ouvido. Se não, eu saberei”
Gênesis 18:20-21
JUSTIFICATIVA TEMÁTICA.
Embora reconheça os benefícios que a era das redes sociais trouxe à sociedade moderna, sigo recusando-me a aderi-la integralmente.
É bem verdade que, como seres sociais, não temos absoluto domínio de nossos atos, e muitas vezes somos compelidos a suportar ou agir em contradição às nossas convicções. Mas não se tratando de algo que possui conteúdo moral (certo ou errado) em si – caso do acesso às redes sociais – nunca me reprimi por, eventualmente, resolver algumas pendências através destas maravilhosas ferramentas virtuais (através de um discreto login pelo cadastro da minha namorada).
São ferramentas maravilhosas, não nego. Mas insisto que, levando em conta minhas características personalíssimas (tempo, idade, mentalidade, opiniões, e até mesmo domínio próprio), seus benefícios não justificam minha adesão: continuo achando algo digamos, deficitário.
Mesmo não aderindo a redes sociais, não escapo de viver imerso na era das redes sociais. Como me tornar ermitão também não está nos meus planos, seguimos em frente assim mesmo.
Digo isso porque os sites de notícia, atualmente, se tornaram redes sociais. As pessoas possuem perfis, verdadeiros ou falsos, e passam a comentar as matérias jornalísticas, o que confesso, por algumas vezes me rendeu boas gargalhadas.
Em outras oportunidades, os comentários que vejo nas notícias, bem semelhantes aos que ouço referências em redes sociais, me fazem refletir. É sobre um deles que passo a escrever.
REDES SOCIAIS: UMA OPORTUNIDADE DE DIAGNÓSTICO DA HUMANIDADE.
Não sei se há necessária relação com a possibilidade de emitir opiniões utilizando perfis falsos, mas as pessoas têm deixado transparecer mais, nas redes sociais, suas falhas pessoais (das quais não têm vergonha, claro… as demais, continuam ocultas a sete chaves).
Continua exemplificando o ridículo e beirando o inacreditável, quando pessoas expõem seus erros, suas opiniões agressivas e irrazoáveis, seus preconceitos, suas faltas de equilíbrio, dessa vez à toda coletividade. Mas apesar dos pesares, tudo isso tem sido comum E o pior disso: achando-se bonitos… “a última bolacha do pacote”.
Não compreendo a que ponto chega a irracionalidade de diversas pessoas, que até mesmo confessam crimes (ou postam fotos de cenas em que praticam delitos) nesses ambientes virtuais! Nem mesmo o pudor, a vergonha, ou, o mínimo, a perspicácia de ocultarem seus delitos? Constituem provas contra si mesmos em busca de muitos like’s… Faz sentido?
Outros deixam transparecer o que há de pior na humanidade: o mal como fim em si mesmo.
A BANALIDADE DO MAL.
Em nossa vida, somos confrontados por dilemas: conscientes ou não, abrimos mão de nossas convicções em função de nossos desejos imediatos, vontades (lícitas ou ilícitas), ou mesmo de nossa afirmação pessoal.
Quando analisamos nós mesmos (e incitar que façamos isso é uma das finalidades da igreja), procurando em nós o nosso pecado, frequentemente percebemos não ter resistido a tentações, e optado pela extremidade errada do dilema moral. Pecamos, e como humanos, sempre temos uma justificativa.
Mas em algumas raras (para alguns) situações, somos confrontados de tal maneira que percebemos ter optado o mal sem nenhum “benefício em troca”. Não houve o que nos tentasse. Em uma analogia simples, sabíamos que o fruto proibido não possuía néctar, textura ou sabor. Mas decidimos, conscientes ou não, mastigar aquele “isopor” e bancar nossa atitude, nossa escolha: decidimos optar pelo mal.
Na verdade, toda escolha pelo mal possui os mesmo efeitos, a morte. Mas os diferentes motivos pelo qual escolhemos o mal nos mostram peculiaridades de nós mesmos igualmente diferentes.
Com essa percepção, a escolha do mal pelo mal, ou seja, a opção de praticar o mal sem vantagem aparente nos traz uma consciência muito mais real daquilo que CALVINO (1509/1544) nomeou DEPRAVAÇÃO TOTAL DO GÊNERO HUMANO.
Percebi isso (e por isso introduzi o texto daquela forma) nos comentários de vários (repito, vários) usuários de um site de notícias. Já inseridos e eloquentes na era das redes sociais, comemoravam eles a morte acidental de um cantor evangélico, tragicamente ocorrida no litoral baiano.
Diga-se de passagem, não tragicamente por ser ele evangélico ou cantor, mas por ser o filho de alguém, o pai de alguém (talvez), o irmão de alguém, o amigo de alguém.
Chamar de asneiras as mensagens ali escritas (A MAIORIA DELAS) seria um ofensa de morte aos asnos, esses simpáticos animais.
Isso me lembrou, além da expressão calvinista, o termo cunhado por Hannah Arendt em seus escritos sobre alguns dos julgamentos dos crimes nazistas que acompanhou in loco: a banalidade do mal.
Trata-se dessa forma mais primitiva e original do mal, que não é praticada em busca de um benefício aparente ou relevante, mas sim reflexo ontológico (digo, da natureza) do ser humano: nós não conseguimos eliminar de nossa alma a tendência de buscarmos o mal, nem que seja com o objetivo de simplesmente praticá-lo. O mal como “fim em si mesmo”, o desejo autônomo de virar as costas ao Deus Criador e toda a sua maravilhosa natureza de justiça e amor incondicionais.
O mal pelo mal: rompendo com gerações anteriores, mal temos nos preocupado em inventar “desculpas” pelo nosso pecado. Não que essas “desculpas” valessem para qualquer coisa (muito menos para redenção), mas ao menos mostrava que lutávamos contra a contaminação infernal que sofremos após a queda, após trairmos Deus, após crucificarmos a Cristo.
Esse “constrangimento conosco mesmo” (que repito, não solucionava nada, mas ao menos nos impulsionava à confissão e ao perdão) aos poucos se esvai. Perto estamos da realidade, nua e crua: a depravação total. O mal não mais constrange o mundo, que, pelo contrário, dele se orgulha a ponto de criar publicações, posts e tweets.
“As acusações contra Sodoma e Gomorra são tantas e o seu pecado é tão grave
que descerei para ver se o que eles têm feito corresponde ao que tenho ouvido.”
Gênesis 18:20-21
Hannah Arendt relata a aproximação do homem ao “mal como fim em si mesmo” em gerações passadas, a propósito do julgamento dos crimes nazistas:
“(…) no que dizia respeito à personalidade dos réus e a seus atos, esse era na verdade um ‘caso muito simples’, porque quase todas as atrocidades de que eram acusados pelas testemunhas não tinha sido protegidas por ordens superiores, que dos assassinos burocratas, quer do real promotor ou promotores da ‘solução final’. Ninguém numa alta posição tinha se dado ao trabalho de fornecer instruções para detalhes como a “caça ao coelho”, a “forca de Boger”, o “esporte”, os abrigos subterrâneos, as “celas para prisioneiros em pé”, o “Muro Negro” ou os “tiros no boné”. Ninguém tinha dado ordens para que os bebês fossem atirados ao ar como projéteis, lançados vivos ao fogo ou que tivessem a cabeça esmagada contra a parede; não houvera nenhuma ordem para que as pessoas fossem pisoteadas até a morte ou se tornassem os objetos do “esporte, assassino, inclusive aquele de matar com um único golpe da mão. Ninguém lhes tinha dito para realizar as seleções na rampa como uma “aconchegante reunião familiar”, da qual voltavam vangloriando-se “sobre o que tinham tirado deste ou daquele recém-chegado, como um grupo de caçadores retornando da caçada e contando bravatas uns aos outros”. Eles não tinham sido enviados a Auschwitz para enriquecer e “se divertirem”. Assim, a decisão criminal duvidosa de que todos os julgamentos de criminosos nazistas eram “julgamentos criminais comuns”, e de que os acusados não se distinguiam de outros criminosos, tornou-se, pelo menos uma vez, verdadeira – mais verdadeira, talvez, do que qualquer pessoa teria se interessado em saber. Inúmeros crimes individuais, cada um mais horrível do que o outro, circundavam e criavam a atmosfera do crime gigantesco do extermínio. E foram essas “circunstâncias” – se esse é o nome par algo que carece de uma palavra em qualquer língua – e os “homens subalternos” responsáveis por esses atos e culpados desse horror, e não o crime de Estado, nem os cavalheiros em posições “elevadas”, aquilo que foi plenamente iluminado no julgamento de Auscwitz.” – ARENDT, Hannah. Responsabilidade e Julgamento. – São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 316/317.
Curioso de que um dos exemplos que pensei, do mal pelo mal, em analogia às pretensiosas mensagens deixadas no portal de notícias que havia acessado, seja exatamente uma das “circunstâncias“ (sinto a mesma imprecisão linguística de ARENDT) mais cruéis e depravantes da história humana.
Além destes fatos, inúmeros outros se juntam ao que há de pior em nossa passagem pela terra: o coliseu, as “guerras santas”, a inquisição, as cruzadas… Estou pensando muito no passado? Então os assassinatos em escolas seguidos de suicídio, os estupros coletivos, o ódio entre nações. Somos todos culpados dos crimes que nos abominam, porque são reflexo puro e simples da natureza pela qual optamos: a banalidade do mal, a depravação total do gênero humano, a ausência de Deus.
O ALENTO.
Embora “culpados de fato”, por um milagre único (o maior de todos) podemos ser absolvidos. Imagino que só por causa de milagre da redenção, manifestação maior do amor e da justiça de Deus, é que este mundo, por completo, não foi destruído como Sodoma.
Disse o Senhor: “Se eu encontrar cinqüenta justos em Sodoma, pouparei a cidade toda por amor a eles” – Gênesis 18:26. Esse número ainda foi reduzido a 45, a 30, a 20, a 10… num diálogo em que Abraão representava toda a humanidade, e o constrangimento por termos escolhido o mal.
Mas o amor d’Ele é muito maior do que podemos compreender, e sou convicto de que apenas por esse motivo essa terra permanece.
A mesma Hannah Arendt que descreve tantas banalidades e crueldades, na mesma obra nos lembra (entre colchetes, a citação é de Kant):
“[Duas coisas enchem a mente com uma admiração e reverência sempre nova e crescente, quanto mais frequentemente e mais constantemente refletimos a seu respeito: o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim]. Do que se pode concluir, sem prosseguir a leitura, que essas ‘duas coisas’ estão no mesmo nível e influenciam a mente humana da mesma maneira. Bem, o que acontece é o oposto: [A primeira visão de uma multidão incontável de mundos aniquila, por assim dizer, a minha importância como uma criatura animal (…) A última, pelo contrário, eleva infinitamente o meu valor, como o de uma inteligência, pela minha personalidade, na qual a lei moral revela uma vida independente de toda a animalidade e até de todo o mundo dos sentidos]. Por isso, o que me salva da aniquilação, de ser ‘uma simples partícula’ na infinidade do universo, é precisamente esse ‘eu invisível’ (invisible self) que pode se opor ao universo.” (ARENDT, op cit., p. 131/132).
Desculpem-me pelo excesso de citações, ou pelos desvaneios injustificados, tudo para justificar lembrarmo-nos desse “eu invisível”, que pode (e deve) se opor ao universo, se opor contundentemente à banalidade do mal e à depravação total do gênero humano.
OBSERVAÇÃO: à exceção das citações, o pensamento de HANAH ARENDT e IMMANUEL KANT não são integralmente conciliáveis com as opiniões pessoais do autor deste artigo, descritas acima, as quais não podem a eles ser atribuídas sob pena de equívoco.
“E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança.E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.”Romanos 5:3-6
“Ó minha alma, espera somente em Deus, porque dele vem a minha esperança.Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha defesa; não serei abalado.”Salmos 62:5-6
“Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo;”Tito 2:11-13
Uma só resposta
Ana Flávia Freire
Cresci ouvindo a história de um grande homem de Deus que faleceu num acidente de carro deixando uma jovem esposa e cinco filhos adolescentes. Muitas vezes esse episódio tão triste me foi narrado por uma senhora que amava seu marido incondicionalmente e acreditava que ele foi um presente enviado dos céus para ela. Com o passar do tempo, percebi que as lágrimas que surgiam em seus olhos quando conta essa história são, sim, de saudade, mas são principalmente de alegria! Alegria por ter tido a oportunidade de ter como marido um homem que vivia para servir o Reino e, principalmente, pela descoberta que ela fez no dia em que perdeu seu melhor amigo.
Ao receber a notícia do acidente, aquela senhora “perdeu o chão”. Sentiu-se completamente confusa e sem disposição para nada, deitou-se em sua cama e passou o dia inteiro ali, sem falar com ninguém. Horas mais tarde, o Espírito Santo fez com que ela se lembrasse do versículo de 1 Reis 19:7, que diz: “levanta-te e come, porque te será muito longo o caminho”. Ela entendeu que Deus estava falando com ela e obedeceu àquela ordem, mas não conseguia compreender o porquê de tudo aquilo estar acontecendo. Muito triste, começou a orar e em determinado momento perguntou: “Senhor, se meu caminho será muito longo, por que levou meu companheiro, que andava ao meu lado?”. Nesse momento, uma coisa sobrenatural aconteceu em sua vida. Ela ouviu uma voz que não era humana e cuja beleza não se compara a nada que existe nesse mundo. Uma voz suave, que falou baixinho para ela: “Eu estou com você”. Simples assim. Assustada, ela abriu os olhos, mas não havia ninguém ao seu redor.
Então essa senhora percebeu que Jesus é a resposta para tudo o que a gente precisa e para os desejos mais profundos de nossos corações. Ele é poderoso para suprir toda e qualquer necessidade, e se andamos com Ele não precisamos de mais nada. Somente nEle nossa alegria pode ser completa! Essa descoberta deu a ela um novo ânimo. Hoje ela tem 5 filhos que usam seus dons para servir a Deus, 15 netos, 6 bisnetos, e posso afirmar com um sorriso no rosto que o caminho dela tem sido longo com Cristo ao seu lado. Porque “tudo o que a gente mais deseja, mesmo não sabendo bem do que se trata, tudo o que é sorriso de felicidade, a gente encontra no mesmo lugar… ” (Banda Crombie)
Assista o vídeo da Banda Crombie: watch?v=HsGH9CnGRI0Crombie
Antagonismo
Uma das formas de Deus nos lembrar quem é o Criador e quem são os criados.
Ah, a racionalidade. Esse atributo que tanto valorizamos, a ponto de declamarmos aos quatro cantos do mundo que nos diferencia dos outros animais. Adjetivado, é um elogio que transmite seriedade e competência. E quando julgamos um erro, alheio ou próprio (mais alheio… sempre julgamos mais aos outros do que a nós mesmos) concluímos que houve a “perda da razão”. Em nossa concepção, a razão sempre está do lado certo. Contra ela nada se pode sustentar.
Se Deus planejou quebrar vários paradigmas quando realizou sua obra prima, seu “poema” que culminou em morte de cruz, um deles foi a supervalorização da racionalidade pelo gênero humano. Se Ele não planejou, quebrou este (e vários outros) paradigmas assim mesmo.
Ele nos insiste em dizer que chama os fracos para confundir os fortes; que escolhe os loucos para confundir os sábios. Que devemos virar a outra face, e perdoar infinitamente (a não ser que você queira contar até setenta vezes sete). Um Rei nascido em manjedoura nos diz, desde a sua concepção, que a nossa concepção do mundo é loucura aos Seus olhos.
Quando estamos fracos estamos fortes, um povo escolhido que clama ao Senhor dos Exércitos nos tempos difíceis, e se esbalda em homenagens a deuses de pau e pedra quando vive em paz. Um povo escolhido, separado, objeto de tutela incansável e milagrosa, pelas mãos de quem o Filho de Deus conhece a morte.
Só temos a racionalidade porque Ele nos fez à Sua imagem e semelhança. Mas Ele, por amor, se preocupou em nos mostrar que o que temos está longe de ser suficiente para a compreensão do Universo. Através dos misteriosos antagonismos deixados em Sua Palavra, Deus nos revela que sua imagem e semelhança em nós não é capaz de nos fazer deuses. Nossas certezas precisam ser rompidas, nossa confiança deve se ater ao que Deus diz que é, e não ao que nossa racionalidade diz ser.
Não nos cansemos de meditar na Palavra, com a racionalidade que nos foi dada por dom. Mas tenhamos sempre mais confiança na voz de Deus do que em nossos próprio pensamentos. Não há silogismo lógico que resista à voz do Criador, que a cada antagonismo (que na prática chamamos de milagres) nos ensina um pouco mais sobre quem Ele é, e sobre quem nós devemos ser. Ele criador, nós os criados (os seus criados).
18. Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.
19. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligentes.
20. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? (1 Coríntios)
Jonas Matos
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
Eclesiastes 3:1-8
Sabemos bem que tudo tem um tempo certo para acontecer, mas nem sempre respeitamos isso.
É como uma música. Toda música tem um ritmo certo para ser executada. Se acelerarmos o ritmo, a música perde sua identidade e sentido.
Assim também é com a nossa vida.
Se acelerarmos os processos de nossa vida , pode-se perder o propósito que Deus tem para as nossas vidas.
Porque para todo o propósito há seu tempo e juízo; porquanto a miséria do homem pesa sobre ele.
Eclesiastes 8:6
Deixe o ritmo de sua vida nas mãos de Deus e só trabalhe na construção dos “acordes” (oração, leitura da bíblia, clamor, comunhão), sua vida ficará repleta de paz e compreensão dos planos que Deus para sua vida.
E a música se tornará uma linda melodia de amor!
Por que andamos ansiosos?
Impressionante é encontrar, em meio às instruções de Jesus no capítulo 6 do evangelho de Mateus, ordens tão singelas como “olhai para as aves do céus” e “olhai para os lírios do campo”. Mas quem de nós cumpre tão doces tarefas?
Como bem sabemos, com tal contexto Jesus nos instrui a não deixarmos a ansiedade tomar conta de nossas mentes e nos ensinou que Deus, sendo Ele próprio o perfeito amor, conhece nossas necessidades e certamente as suprirá. Afinal, Jesus disse que se Deus alimenta até os passarinhos que ficam só cantarolando prá cá e pra lá e que se Ele veste os passageiros lírios com roupas mais dignas que as de um rei, cuidará muito mais de nós. Mas o que realmente significa esse cuidado de Deus para conosco? Certamente isso não é um convite para pararmos todo nosso trabalho e ficarmos somente assoviar ou sentir o vento. Trata-se de algo mais profundo.
Se continuarmos a leitura, terminamos o capítulo com o seguinte versículo: “Não vos aquieteis pelo dia de amanhã, pois o de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.” Confesso minha dificuldade de compreender o que Jesus queria dizer com palavras aparentemente tão pesadas. Nosso mestre poderia ter construído a frase de outra maneira: basta a cada dia suas próprias bênçãos, ou seus próprios sorrisos, mas disse exatamente o contrário. Além disso, como não nos aquietaremos com o amanhã se a rotina exige que planejemos nosso dia inteiro, com horas de trabalho, prazos a cumprir, provas a fazer, passar tempo para a família, organização, ajudar os amigos, participar das atividades da igreja, …? Parece até que na época que Jesus veio à Terra os dias eram mais longos, não é?
Na verdade, penso que a mensagem presente nesse capítulo vai além do óbvio (sem deixar de ser claro). No versículo 25, Jesus interroga: “Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?”. A resposta flui facilmente. É claro que sim! E logo essa frase de Jesus me leva a desvendar muitos mistérios que antes via na ordem de olhar os pássaros do céus e os lírios dos campos, pois não se trata apenas da vida física. Não é a Vida, isto é, o preço pago no sacrifício da Cristo por nossos pecados na cruz, o melhor que temos? É simplesmente tudo o que temos. Todas as outras coisas são secundárias e, portanto, se já nos foi dado TUDO, não há razão para inquietude.
Ao mesmo tempo, diante dessa Verdade, não há outra atitude senão nos constrangermos e fazermos tudo o que pudermos nessa vida para Glorificá-lo, o que inclui lançarmos mão de nossas próprias habilidades, e não apenas cantarolar (como as aves do céu) e ficarmos parados ao vento (como os lírios do campo). A paz de Cristo deve fazer parte de nós em todo tempo, freando nossas preocupações, pois sempre nos traz à memória que já temos o mais importante: o perdão de Cristo.
Olhemos para as aves dos céus e para os lírios do campo, se for preciso, para outras lindas obras da criação, lembrando sempre que nada do que podemos fazer é melhor do que o que já nos foi dado! E nada poderá nos tomar essa certeza!
Isabela Boechat Morato
Provas de amor
Ana Flávia Freire
“Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade.” 1 João 3:18 (NVI)
Era uma tarde de sexta feira e eu estava no ônibus, voltando para casa. Decidi ouvir um pouco de música para passar o tempo e optei por uma das minhas bandas favoritas, Coldplay. Apesar de já saber de cor as letras da maioria das canções que escutei naquele dia, pela primeira vez percebi que a última frase de uma em particular chama a atenção para um aspecto importante da nossa missão de buscar o aperfeiçoamento no amor. Violet Hill termina da seguinte maneira: “Se você me ama, não vai me deixar saber?”.
O amor não é completo se não for demonstrado! E não existe maior prova de amor que o sacrifício de Cristo na cruz. O homem escolheu o pecado, e o pecado o afastou de Deus, o que muito entristeceu o nosso Criador que, então, decidiu permitir a nossa reconciliação com Ele. Deus poderia simplesmente ter dito: “tudo bem, eu criei vocês à minha imagem e semelhança, e, apesar de terem se distanciado de mim, eu os amo muito e os perdoo.”. Mas Ele escolheu provar que nos ama ao enviar seu único filho para morrer por nós, ilustrando o amor que é o elo perfeito (Colossenses 3:14).
Em seu texto “Amor Sacrificial”, a enfermeira Melodious Echo narra uma experiência que a fez refletir sobre a importância das provas de amor. Durante um trabalho missionário no Quênia, ela teve a oportunidade de visitar um hospital da região onde estava e o grupo que a acompanhava foi interrompido por um funcionário afirmando que necessitavam de sangue para uma cirurgia de urgência. A paciente era uma mulher que enfrentava uma gravidez de risco, e não havia sangue armazenado que fosse compatível com o tipo dela. Então, Melodious escolheu ignorar seu medo de agulhas e sua preocupação com a higiene dos instrumentos (afinal, eles estavam em um vilarejo sem qualquer recurso, na África) e se submeter a um procedimento de doação de sangue. Naquela noite, depois de pensar bastante sobre o ocorrido, ela concluiu que não bastava apenas se importar com a vida daquela paciente, torcer e orar para que ela melhorasse, ela tinha de fazer tudo o que estava ao seu alcance para mostrar que se preocupava. Não seria suficiente se não envolvesse algum tipo de sacrifício. Doar um pouco de seu próprio sangue foi, naquele momento, a melhor maneira de refletir o grande amor de Cristo por aquela mulher e por seu bebê.
O amor que pregamos precisa também ser vivido. Requer interesse e cuidado com o outro. Envolve aproximação! Muitos ao nosso redor precisam apenas de um sorriso, um abraço, uma visita ou uma boa conversa. Como representantes do Reino de Deus, é nosso dever deixar as pessoas saberem que são importantes para Ele (e para nós) por meio de provas concretas. Uma pincelada de amor em nossas atitudes cotidianas mostra que nos preocupamos com o próximo assim como o nosso Pai Celestial se preocupa conosco, e faz de nós, discípulos, um pouquinho mais parecidos com o nosso Mestre.
Referências:
-ECHO, Melodious. Sacrificial Love. Set Apart Girl Online Magazine, n.2, Sep/Oct 2010. Disponível em: <www.setapartgirl.com/magazine/issue/2010/sep-oct>
A virtude do equilíbrio
Jonas Matos
AEQVILIBRIVM – Algo há de intrigante na distribuição perfeitamente harmoniosa do peso sobre as faces de um objeto. Essa técnica, se apurada, é capaz de anular a força gravitacional, fazendo com que vários objetos resistam à queda, assim como é capaz potencializar a resistência de determinado material para que suporte o máximo possível de forças contra si.
Nós, humanos, que de bobos só temos a nossa arrogância, soubemos valorizar o EQUILÍBRIO. Talvez cativados, desde crianças, pelos primeiros passos dados a exemplo (e para a festa) de nossos pais, ou amedrontados pelos primeiros tombos no tapete da sala, mas soubemos valorizar o equilíbrio.
Criamos esportes para homenageá-lo e desafiarmo-nos. As bolas são redondas, algumas até ovais, e nos sentimos extasiados ao vermos um chute certeiro, um arremesso preciso, uma tacada perfeita. Treinamos o corpo, desenvolvendo-o de tal forma a pender pelos braços, perpendiculares ao tronco e em forma de cruz, sobre duas argolas, obtendo a nota máxima dos jurados. Nos dedicamos por horas e horas de treino para realizar saltos em trampolins e plataformas, sempre buscando a performance mais equilibrada, mesmo sem terem os pés aonde se apoiarem. E aplaudimos, aplaudimos, aplaudimos.
Estudamos tanto o equilíbrio, com tal intensidade e fascínio, que nos tornamos aptos a edificarmos construções altíssimas. Construímos sistemas tão equilibrados que nos permitiram dominar a velocidade com automóveis e a altura com helicópteros.
Nossa admiração pelo equilíbrio é tão intensa que nos perdemos no tempo girando moedas com os dedos sobre a mesa, tentando fazê-las permanecerem na vertical pelo máximo de tempo possível. E mais horas apreciando a tranquilidade com que um beija-flor se sustenta no ar, próximo à nossa janela. E mais horas, mais horas e mais horas admirando a sintonia perfeita, o momento preciso anterior ao excesso mas posterior à escassez, mesmo que dure por apenas um segundo.
Mas a admiração pelo equilíbrio não nos basta. As homenagens de engenharia e os desafios esportivos são totalmente vazios de significado, porque embora sejamos fascinados pelo equilíbrio, não conseguimos renunciar ao excesso ou evitar a escassez. Ora pendemos para um lado, ora pendemos para o outro. Como crianças aprendendo a andar, comemoramos os segundos que conseguimos permanecer de pé, e voltamos ao chão.
Se trabalhamos quantidade equilibrada, as circunstâncias nos levam a querer mais, sacrificando a vida familiar. Abalados pela instabilidade emocional e os problemas que a cercam, não conseguimos render profissionalmente como antes.
Amamos demais quando pouco nos conhecemos, e amamos de menos após décadas (às vezes até menos) de vida em (ou “in”)comum.
Tudo por não reconhecermos, nos momentos de equilíbrio, que somos realmente felizes. Abandonamos a serenidade que duramente alcançamos ao constatarmos que outras pessoas a têm mais do que nós, para só depois descobrimos que elas não a tinham. E então, para volta ao ponto de equilíbrio, o único caminho é começar tudo novamente.
Não é por acaso que admiramos o equilíbrio, já que é por tão pouco tempo que conseguimos nos manter equilibrados. Por insistirmos que podemos ter mais um pouco disso, menos um pouco daquilo, “caímos da corda bamba” (e nem sempre há rede de segurança).
Mas as quedas são normais, inevitáveis. Problema é, por causa delas, renunciarmos a uma vida equilibrada enquanto nas questões menos importantes da vida admiramos o equilíbrio. Problema é não queremos enfrentar o duro caminho de volta ao equilíbrio, já que dura tão pouco. Problema é nos convencermos de que o excesso ou a escassez valem à pena, e renunciarmos anular a força gravitacional, evitar quedas, potencializar a resistência de forças contra nós.
Problema é nos esquecermos da grandiosidade que têm os primeiros passos no tapete da sala, da paz que sentimos, do orgulho de nossos pais, a surpresa do inesperado em algo tão comum. Problema é recusarmos a ver com gratidão cada momento de equilíbrio que duramente conquistamos, porque sem gratidão por eles, nunca mais os alcançaremos.
Fonte da Imagem: redevida.com.br
Dia dos namorados
Não haveria um dia melhor para celebrarmos o dia dos namorados do que aos doze de junho! Por que doze de junho? Porque doze de junho é hoje, simplesmente por isso.
No fundo, no fundo, é uma data estrategicamente escolhida para fomentar o comércio, mas se querem saber, não devemos nos importar com isso. Essa data poderia ser utilizada para estimular o consumo de bens e serviços com várias outras desculpas muito mais despropositadas. Pelo menos prestamos, ainda que por circunstâncias econômicas, um tributo ao amor, e não a inúmeras futilezas que poderiam ser homenageadas (não citaremos exemplos, porque “vai que pegam as ideias e fazem mesmo”…).
Podemos refletir sobre o amor com romantismo ou racionalidade. Estranhamente neste tema as duas perspectivas inevitavelmente se encontram, e sem perceber-se, o mais racional dos indivíduos é visto dizendo não saber explicar o que a mais romântica criatura compreende tão bem: estão apaixonados.
Os “lugares comuns” e “chavões” podem ser evitados pelos mais inovadores, mas com moderação: uma palavra mal entendida pode dar a impressão de que o amor não é mais o mesmo.
Em compensação, existe sempre uma forma ainda não descoberta de se dizer que se ama. Às vezes é um olhar. Mas não qualquer olhar. Um olhar que exprime admiração e autêntica vontade de se ter ao lado quem se tem ao lado. É bem verdade que esse olhar exige dedicação, mas não a dedicação no olhar (esqueçam o “olhar 81” ensinado por algumas de nossas mães…). Esse olhar que comunica amor exige uma dedicação anterior, demonstrada em outras situações. Exige compromisso, maior do que anéis de ouro e papeladas assinadas. O que é a comunhão de bens, se não se compartilha a vida?
Cada casal, em suas particularidades, pode escolher como passar o dia dos namorados. Pode-se ver um filme sobre o dia dos namorados, ou um filme de terror. Pode-se ir a um restaurante, ou a um baile dançante (“ops”, voltei no tempo). Pode-se apenas conversar no telefone, se a distância foi impecílio. Pode-se até mesmo decidir não fazer nada de diferente em relação aos outros dias. Só não podemos perder a oportunidade que esta data, escolhida por critérios econômicos, nos dá de expressarmos também hoje a gratidão inerente e transcendente ao que amam e são amados.
De minha parte, só tenho a dizer que sou grato, ah – como sou grato. Todas as demais questões, hoje, ficarão por conta do olhar.
Fonte da Imagem: https://olhares.uol.com.br/de-maos-dadas-tambem-com-o-mar-foto2469409.html