Não Acredite!
Na história recente da Ucrânia, há um episódio que muito tem a ver com nossa atual realidade de protestos e manifestações.
Em 2004, em plena campanha eleitoral, o candidato da oposição Victor Yushchenko disparava nas pesquisas eleitorais para a presidência, mas o resultado das urnas foi para todos uma surpresa (exceto para o governo). Yushchenko foi ultrapassado no segundo turno pelo candidato governista, isto depois de uma fracassada tentativa de o tirar completamente do páreo com um envenenamento.
Naquela noite, o canal de televisão estatal anunciou: “Senhoras e senhores, anunciamos que o candidato Yushchenko foi definitivamente derrotado”. Entretanto, a equipe da TV não levara em conta um importante detalhe em sua equipe. O programa era simultaneamente traduzido para surdos através da língua local de sinais e a tradutora, sabedora dos acontecimentos fraudulentos pelos bastidores da TV, não se aguentou de tamanha indignação. Enquanto a repórter dava a versão oficial do resultado da eleição, colocando em risco seu emprego bem como sua vida, a tradutora passou aos surdos uma mensagem bem diferente. Ela disse: “Falo a todos os cidadãos surdos da Ucrânia. Não acreditem no que eles dizem. Eles estão mentindo, e eu estou envergonhada de transmitir estas mentiras. Yushchenko é o nosso presidente!” Dentro do estúdio, entretanto, ninguém entendeu uma só palavra da mensagem radical que ela dizia através dos sinais das mãos.
Inspirados pela corajosa tradutora, os surdos dispararam o início do que ficou conhecida como a Revolução Laranja. Através de SMS’s eles espalharam a notícia a todos os seus contatos, colocando combustível no sentimento de indignação da população. Não demorou muito para que jornalistas ganhassem coragem para questionar os resultados das urnas e nas semanas seguintes o que se viu foi uma multidão de milhões de pessoas protestando na cidade de Kiev, todas vestindo a cor laranja, demandando a verdade sobre a eleição. Ao governo restou convocar novas eleições e, desta vez, Yushchenko saiu como o vencedor de forma inquestionável.
A mensagem do Evangelho de Jesus é para o mundo algo como a mensagem da tradutora aos surdos. Enquanto oficialmente todos aceitam o fato de que devemos buscar o conforto material acima de tudo, seja com uma vida materialista, seja acreditando que este é o objetivo maior de Deus para os ‘seus filhos’, o Evangelho grita ainda mais: “Não acreditem! Eles estão mentindo! É o pobre de espirito que será abençoado, e não o orgulhoso e autossuficiente que se acha rico de tudo. São os que choram que serão consolados, e não os que se esbaldam em prazeres egoístas e destrutivos.”
Enquanto o espírito deste século nos empurra para um corre-corre desenfreado e ansioso, que faz com que as coisas – bens, status, carreira – tenham maior importância que as pessoas, o Evangelho clama: “Não acreditem! Você não precisa disso tudo pra viver e ficar ansioso é nada mais que falta de fé no Criador, pois ele sabe do que necessitamos para viver. Afinal de contas, de que adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma?”
Enquanto as notícia “oficial” diz que Deus não existe ou que não devemos nos importar com o fato de ele existir ou não, Jesus, através de uma mensagem bem clara para quem tem ouvidos bem abertos, grita: “Não acreditem! Ele não só existe como todo o curso da história está em Suas mãos, e em breve eu voltarei para consumar os Seus planos eternos”.
As duas mensagens estão sendo constantemente transmitidas aos quatro cantos. Como disse o próprio Jesus: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.”
Luís Fernando Nacif Rocha
PS: Para um primeiro contato com algumas destas “notícias”, sugiro o Sermão da Montanha (Evangelho Segundo São Mateus, capítulos 5, 6 e 7)