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Infância de verdade

“Tempo bom, que não volta mais”, diz o saudosista. “Minha época é que era boa. Fruta no pé, banho de rio, de chuva e de mangueira. Soltar pipa, brincar de bonecas de pano. Cozinha e panelinha de barro. Bonequinhas de papel com roupinhas para recortar. Arrancar a tampa do dedão jogando futebol na rua”. Olham para as crianças de hoje e, de pronto, pensam: “Vocês não sabem o que é infância feliz!”

OK, senhor saudosista. E agora? Ficaremos apenas com seus filmes amarelados e fotos envelhecidas na mente? Como vai viver a criança de hoje em tempos tão claustrofóbicos?

Não temos mais as ruas sem os carros, nem mesmo nos interiores. O asfalto toma conta, a fumaça indica o avanço da metrópole que nos abafa a cada dia. Começa no pequeno e vai até o grande. Criança e adulto sofrendo com os “tempos modernos”, que nos fazem apertar porcas sem pensar que não estamos passando de alicates velhos.

Me dê a solução, vai? O que faço para trocar os videogames de “milhões de bytes”, os controles que causam L.E.R e as guloseimas coloridas quase alucinógenas? Como mostrar a uma criança uma saída saudável nesse tempo pós-digital?

Ouso dizer a resposta. A saída está no afeto, no abraço, na risada que dói a barriga. Está na mesa do almoço, no abraço da volta para a casa. Está no brinquedo que se brinca junto, seja burrinho de batata ou boneco do Batman. Não precisamos de muito. Nunca nos faltou nada. Nós que criamos nossas necessidades ou tentamos suprir nossas ausências.

Achamos que crianças precisam de algo além de amigos e família. De que adianta uma bola sozinha, um campinho sem a turma, um gol sem o pai para torcer? De que adianta o sucesso na prova sem a mãe a sorrir, os irmãos a irritar e a casa sem barulho?

Necessitamos de algo além do plástico, da moda, do acessório. Criança necessita de amor. De brinquedo, talvez. De brincadeira, sempre. Podemos fazer diferente. Podemos viver, felizmente. Sabe por quê? Precisamos apenas do necessário, somente o necessário, pois o extraordinário é demais. Amor derramado em casa faz a vida da criança mais saudável, plena e criativa.

Será assim: com amor, criaremos crianças criativas e seguras. Crianças crendo em Cristo. Mas, como crerão, cara pálida? Crerão se pregarmos, se vivermos, se ela viver. Se uma criança conhece a Cristo na primeira infância, ela se tornará um adulto pleno e saudável. “Dê-me uma criança até os sete anos, que te devolvo ela para o resto da vida”, parafraseio os Jesuítas. Era assim. Os missionários sabiam da máxima de Jacob Comenius: “Uma criança recebe mais fácil o evangelho, pois não tem as corruptelas da alma tão desenvolvidas ao ponto de tampar a luz”.

Crianças, plantas, animais de estimação. Todos sofrerão os estímulos do ambiente que lhes é dado. Precisamos então dos melhores estímulos e dos mais nobres motivos. Não somos “tábulas rasas”. John Locke errou nessa. Ignorou que as primeiras páginas da nossa vida têm grafadas em folha de carne: pecador! Tá nisso, por isso, deu nisso! Criança tem pecado.

Pergunte a ela a célebre frase do nosso Senhor: “Quem não tem pecado que atire a primeira pedra”. Ela comprovará o pecado com uma bela cangada! Criança tem pecado, precisa ser discipulada, levada aos pés de Cristo. Somente assim a vida saudável que buscamos será vivida.

Não dá para terceirizar. Começa em casa. Rotina marcada, segurança no ambiente. Certeza de que seu pai, mãe e amores não vão lhes faltar. A mão que afaga não se tornará a espada que fere a alma. A menor dor de uma criança é a chinelada no bumbum. A maior, de ver o amor virar ódio.

Outra coisa: criança saudável é só criança, não um “mini adulto”. Não tem que se comportar como gente grande, pois não é. Não precisa ver coisa de adulto, pois ainda não entende. Não necessita vivenciar o mundo adulto, pois ainda chegará lá. Adultização, sexualização e roubo da infância precisam parar!

Já crescemos, já sofremos e sabemos o que fere. Por isso, você é chamado à proteção, à defesa e a denunciar. Promover infância saudável é mais que cuidar. É gerar e criar. Assim como se cria uma obra de arte, se cria uma criança. Criamos crianças com o manuseio em amor, a escolha da cor certa, a hora correta de se apertar o passo, o momento adequado para deixar falar.

Se geramos, protegemos. Se protegemos, cuidamos. Ao cuidar, criamos. Criamos crianças para Cristo.

Pr. Bruno Barroso · Pastor Auxiliar