Filhos especiais, pais especiais, graça que fortalece
O nascimento de uma criança deficiente traz novas realidades à família. Diante da notícia (surdez, cegueira, síndrome de down, DTH, dificuldade motora, uma síndrome que limita, etc.) mães, pais e avós, podem ficar chocados, tristes, derramarem muitas lágrimas, manifestarem sentimentos de negação, resignação e até mesmo revolta. Perguntas sem respostas tomam conta do coração: por quê? De quem é a culpa? É alguma maldição? Quem pecou?
O fato é que somos desta grande e sofredora família humana, que carrega em sua história as consequências do pecado cometido no Jardim do Éden. Aquele pecado fez com que toda a raça humana fosse contaminada com as consequências do pecado e aí entrou no mundo a dor e morte e a separação de Deus. Entretanto por meio de Cristo, que venceu, com sua morte e ressurreição, o pecado, a morte e o diabo e nos reconcilia com o Deus vivo, podemos experimentar novos tempos de refrigério, salvação e cura.
Nem sempre uma situação de dor é fruto de um pecado específico. “Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego? Disse Jesus: nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele” (João 9.2-3).
Mas, em qualquer situação é preciso enfrentar e reagir. Enfrentar significa aprender a lidar com os fatos. Enfrentar é encarar; atacar de frente. Entender que esta criança especial, precisa agora de pais corajosos e de coração valente e guerreiro. É preciso estabelecer um vínculo real com o filho ou filha real. Enfrentar é procurar profissionais competentes e os recursos que estão à disposição na ciência como: terapias, medicamentos, aparelhos, cirurgias, próteses e outros. Enfrentar é abandonar a negação.
Reagir é lidar com as emoções. Os sentimentos que – podem durar um tempo ou muito tempo – estarão numa confusão. É preciso elaborar o luto, lidar com a dor, a ansiedade, a culpa, o medo do futuro, a sensação de incompetência, as acusações de dentro e de fora, as condenações, a raiva contra si mesmo, e contra “sei lá o quê” e contra Deus: “afinal, não é justo que eu passe isso, meu Deus”.
Reagir é lidar com a culpa real – a criança foi afetada por um remédio, alcoolismo, AIDS, doença venérea? – às vezes é preciso lidar com a falsa culpa. Pessoas que dizem que é uma maldição; que é consequência da falta de fé, falta de oração, que deveria ter ido a tal lugar para orar, oferecido determinado “trabalho”, ou é culpa dos pais ou avós, bisavós que pecaram, é porque na casa tem uma tinta vermelha na janela branca, etc… E muita gente segue por este caminho. Muito mais importante do que isso é superar e sobreviver.
Superar a sensação de fracasso, a ira contra os testemunhos de cura divina – “por que o meu não foi curado?” Sobreviver sustentado pela providência e soberania divina. Sobreviver fazendo o que for possível para ajudar este filho querido, sem nunca perder a expectativa de um milagre e de um fato novo, vindo das mãos do Eterno, seja por intermédio da ciência ou por uma intervenção sobrenatural. Todas as vezes que alguém orar por cura divina, participe e espere seu milagre.
Sobreviver iluminando vidas. Muitas vezes o filho não será curado, mas a família se tornará uma família que iluminará e cooperará para o consolo de outras famílias que enfrentam situações semelhantes e até piores que a sua. É neste contexto que nascem pais especiais. Gente que merece nosso reconhecimento e honras exponenciais.
Sobreviver sabendo que viver pela fé é conviver com muitas perguntas sem respostas, mas nunca duvidando que o Senhor nos ama. Sobreviver na expectativa do dia em que Ele fará novas todas as coisas.
Fácil? De jeito nenhum. E nunca é fácil. E nada neste contexto é fácil. Mas a multiforme Graça continua a nossa disposição. Também é importantíssimo o carinho, bondade dos irmãos, amigos, vizinhos que deixam de nos julgar, condenar ou rejeitar nossos filhos amados, e nos auxiliam a tornar a vida deles um pouco melhor.