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Estudos e artigos

“DOCES OU TRAVESSURAS” – O HALLOWEN E AS SAGRADAS ESCRITURAS

Porque desde criança você conhece as Sagradas Letras…” (2 Timóteo 3.15a) 

Chamado a escrever este texto, vi-me diante de um “fácil desafio”, uma vez que, grosso modo, pode-se simplesmente rechaçar o tema sob a afirmativa “isso não é de Deus”. A aceitação no meio evangélico seria, digamos, mais natural, considerando que o tema “halloween” traz consigo (e em si) simbologias um tanto quanto estranhas. No entanto, não demorou muito para descobrir que o desafio seria um pouco maior. É sério! Não só para explicar as origens da “festa”, sua inserção na cultura brasileira (mais recente), bem como trazer uma exposição que seja instrutiva para pais e, principalmente, crianças da comunidade evangélica (e fora dela), uma vez que estas são o principal alvo. Além disso, como “cereja do bolo”, o halloween ocupa o calendário do dia 31 de outubro – data celebrativa da Reforma Protestante. Também neste mesmo mês comemora-se o Dia das Crianças. Postos todos os ingredientes, vamos lá! 

O halloween é mais tradicionalmente festejado nos Estados Unidos. Mas, nasceu com os povos celtas que habitavam as Ilhas Britânicas e, numa festa pagã chamada de “Samhain” (lê-se sôuen), celebravam no período de 31 de outubro a 1 de novembro o fim da colheita e o início do inverno. Era tempo do contato entre os dois mundos. O dos mortos com o dos vivos. Os Celtas acreditavam que seus mortos do último ano podiam vagar, percorrendo lugares onde viveram e estabelecer, de alguma forma, contato com seus familiares vivos. A crença era tão forte que, durante as refeições era deixado um lugar à mesa para que o espírito do morto pudesse se assentar. Criam também que os espíritos malignos e seres sobrenaturais podiam transitar o mundo dos vivos. Por isso, nos caminhos era deixado uma espécie de nabo esculpido como carranca acesa para espantar os “maus espíritos”. Daí a abóbora com a vela dentro. 

A cristianização dos povos europeus promoveu, pela Igreja, o sincretismo religioso que, numa espécie de apropriação da “cultura celta” (ressignificação da cultura?), instituiu as celebrações do dia de todos os santos, pelo decreto do Papa Gregório III. A argumentação sustentava que o dia dos finados celebrado pelos celtas não representava os finados comuns. Nesse sentido, aquilo que era a superstição de um povo politeísta, guiado por seus druidas (espécie de sacerdote) se transforma em celebração religiosa autenticada pela Sé. Tudo isso é transportado por povos irlandeses para a América do Norte, onde a celebração ganha força e se torna até feriado.  

Por tudo o que o halloween representa, qual deve ser a postura dos pais cristãos evangélicos diante dos questionamentos de seus filhos? Eles podem participar dessas (e de outras) celebrações? O que há de errado quando o chamado parte das escolas, onde a influência do grupo organizado tende a impulsionar e conduzir as ações de todos, independentemente de suas convicções e confissões? Como se deve combater (e a pergunta também é se deve ser combatida) a “imposição” do conjunto? E o que fazer quando tais comemorações se fundem com o mês e o Dia das Crianças? Essas e outras questões por vezes nos apanham e, mesmo no meio evangélico, não encontram unanimidade. Há crentes que não veem mal nenhum nas celebrações do halloween. E agora?  

Partindo da consideração de que “tudo é lícito, mas nem tudo convém”. Ou seja, tendo a liberdade de escolha, devemos escolher o que é certo e aprovado pela Palavra de Deus. Essa – embora seja uma resposta simples – é, ao mesmo tempo, direta e bíblica. O apóstolo Paulo, na carta aos de Roma, diz: “…bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova” (Romanos 14.22). Portanto, sugiro algumas considerações, quais sejam: 

1) A Bíblia é a regra de fé e de prática para o crente. Isso significa dizer que tudo quanto não se enquadra nas verdades da Palavra de Deus como permitido, não deve acampar a conduta cristã. Mesmo naquelas questões em que as Escrituras se silenciam, não é aberto ao crente praticá-las sem uma boa reflexão. Não se trata de mero juízo de valor, mas sim quanto ao fiel testemunho que de Cristo se deve dar. A Palavra de Deus é inspirada por Ele mesmo e apta para ensinar a viver corretamente. Leia 2 Timóteo 3.16. 

2) A Bíblia condena a consulta (e culto) aos mortos, conforme se observa em Levítico 19.26, 31; 20.27; Deuteronômio 18.10; Isaías 8.19. Outra consideração é que, quando se morre, desliga-se deste mundo dos vivos. Em Eclesiastes 9.5 tem-se: “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma…” (g.n). Disso decorre que “somente os vivos podem experimentar (ou continuar experimentando) as coisas da vida”. Assim sendo, não faz sentido nenhum o culto, reverência, orações ou petições aos que já morreram. Muito menos “brincadeiras” que invoquem ou evoquem espíritos de mortos ou seres assemelhados (zumbis, múmias, fantasmas etc). O halloween traz todas essas figuras como temáticas de suas comemorações. Outrossim, não apenas o sentido direto, mas também a intenção por trás da festa. Nas suas raízes, os pagãos reverenciavam tais figuras, cultuando-as, o que é contraditório àquilo que a Bíblia ensina. 

3) As Escrituras nos direcionam a ter bons pensamentos. O texto de Filipenses 4.8 nos conclama à retidão, louvor, verdade, respeito, justiça e pureza de pensamentos. Estariam todas essas virtudes desassociadas das condutas cristãs? Certamente que não. Portanto, os filhos devem ser ensinados nessa completude de que os pensamentos conduzem às ações. 

4) As crianças crentes devem ser ensinadas, desde cedo, quanto a diferença que promovem nos lugares onde estão. Seus trajes, sua fala, seus pensamentos e suas condutas não se moldam pela secularidade (“todo mundo tem, todo mundo vai”). O modelo do mundo não nos cabe, conforme Romanos 12.2. A “vontade de Deus” é o alvo do crente. É isso que o torna diferente “neste século”. 

5) As celebrações do halloween, ainda que ocorram em um mês dedicado às crianças1, não devem ser consideradas pelos pais cristãos (principalmente os evangélicos) como uma “festinha inocente”. As origens são recheadas de significações e estas confrontam diretamente com aquilo que a Bíblia ensina e orienta, enquadrando-se naquilo que ela condena.  

O apóstolo alerta que muitas coisas têm “aparência de bondade”, mas são desprovidas do amor a Deus, em todos os sentidos (vide 2 Timóteo 3.5). Portanto, um alerta se acende quando despreocupadamente o cristão se deixa levar pelo cotidiano ao seu redor. É o embalo que embala a todos. Quanto a isso, é preciso muita atenção. O cristão não é mero opositor. Suas contradições precisam (e devem) argumentar suas razões da fé (leia 1 Pedro 3.15b). A fé cristã se fundamenta naquilo que “nos torna sábios para a salvação”, as sagradas letras! 

– Pr. Edson Gonçalves – Pastor Auxiliar