“DIANTE DE DEUS”, O QUE SIGNIFICA?
“Coram Deo” – É uma expressão teológica em latim surgida no início do século XVI, que significa perante a face de Deus ou diante de Deus. Para saber o que significa estar diante de Deus é imprescindível saber como Deus se revela a nós. O verdadeiro conhecimento de Deus só pode ser adquirido graças à revelação que Ele dá de Si mesmo. Deus só pode ser conhecido se Ele Se revelar, e na medida em que o faz. Sem a revelação, o homem nunca seria capaz de adquirir qualquer conhecimento de Deus. Partindo desse pressuposto temos como chegar numa correta percepção bíblico-teológica para sabermos como Deus Se revelou e ainda Se revela ao homem. Deus Se revela distintamente por meio da revelação geral e da revelação especial:
Revelação geral – Trata-se da revelação que Deus nos dá por meio das obras da criação. A natureza é o palco no qual podemos perceber quem é o Criador. É como se Deus tivesse deixado as Suas impressões digitais nas obras da Criação (Salmo 19; Atos 14.17; Romanos 1.19-20). A revelação geral inclui as obras da providência e a constituição do ser humano (senso moral e da divindade). No entanto, a revelação geral pode, no máximo, comunicar certas verdades, mas não comunica nada sobre a graça e o perdão e, frequentemente, é uma revelação da ira (Rm 1.18-20) – nada muda na existência por meio desta revelação. Ela, de alguma forma, ilumina a mente e restringe o pecado, mas não regenera a natureza de seres humanos caídos e do mundo.
Revelação Especial – É o conhecimento que Deus dá de Si mesmo como nosso Redentor. Sendo revelação, não tem nada a ver com as descobertas que o homem tem sobre Deus, mas tem a ver com o conhecimento que vem até nós procedente do próprio Deus (Hebreus 1.1-4; Salmo 147.19-20; Salmo 19; João 1.18; Colossenses 2.9). A autorrevelação de Deus vem até nós mediante a uma grande narrativa progressiva que perpassa pela Criação – Queda – Redenção – Consumação. A humanidade caída vê essa revelação apenas em parte e com os olhos vendados, portanto, uma revelação especial é necessária, e é providenciada pela graça. Nessa revelação, Deus Se faz conhecido a nós como o Deus Triúno: Pai, Filho e Espírito Santo. A revelação especial alcançou seu ápice em Jesus Cristo, o Mediador da criação e da redenção. Tem como objetivo recriar a humanidade conforme a imagem de Deus, estabelecer o Reino de Deus na terra, redimir o mundo do poder do pecado e, assim, glorificar o Nome do Senhor em todas as suas criaturas.
Na carta de Romanos 5.10 diz: “Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida”. O texto infere duas possibilidades de estar diante de Deus, ser “inimigo” ou “amigo de Deus”.
Após a queda no pecado, o homem natural, sem a revelação de Cristo, se apresenta diante de Deus, como inimigo de Deus. O seu coração está voltado para sua própria vontade e seus desejos, sua justiça está muito aquém da justiça de Deus. A sua bondade e o seu amor foram desfigurados pelo pecado, ele quer ser independente e fazer o que lhe apraz, ele sabe que precisa de Deus, mas irredutivelmente não O quer, prefere viver a seu bel-prazer. Como em Filipenses 3.18 diz: “O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas”.
Contudo, fora revelado ao mundo as boas-novas, o Evangelho, apesar do pecado do homem e, mesmo sem merecimento algum, Deus – pelo Seu amor incondicional – abre o caminho para restaurar a comunhão que fora quebrada; Deus, em Sua graça providencial, envia Seu filho como propiciação pelos pecados de Seu povo. Nesta condição, o homem se apresenta diante de Deus como amigo de Deus, e por toda a eternidade. Isso só se tornou possível mediante a revelação do Redentor Jesus Cristo. A morte expiatória de Cristo resgatou para Deus um povo santo chamado Igreja. O destino glorioso dos “amigos de Deus” é aquele citado em Romanos 8.30: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”.
Sproul (teólogo calvinista estadunidense e pastor, falecido em 2017) dizia que “A grande ideia da vida cristã é Coram Deo. Coram Deo captura a essência da vida cristã. Viver Coram Deo é viver a vida inteira na presença de Deus”. Isso quer dizer que, de uma maneira prática, os cristãos redimidos em Cristo devem viver diante de Deus em quaisquer circunstâncias – trabalhando, estudando, descansando, cultuando, ensinando; e em quaisquer lugares – seja em casa, no trabalho, na escola ou na igreja. Na realidade, em todas as situações o homem sempre estará servindo a Deus ou não.
Finalmente, viver diante de Deus é viver pelo testemunho de vida, é viver a vida inteira na presença de Deus, sob autoridade de Deus, submetendo sua própria vontade para a glória de Deus. Tudo que os cristãos fizerem ou possam fazer, estimulados pela Palavra de Deus, que façam diante de Deus para a glória do Pai, do Filho e do Espírito Santo!
Para reflexão: Como estamos diante de Deus?
– Lic. Milton Fernandes – Licenciado