COMO LIDAR COM A INFLAÇÃO DE FORMA INTELIGENTE
Primeira coisa que temos que entender, é que a inflação não é um problema, é uma solução. Mas como assim? Como que um aumento de preço pode ser benéfico? Pois é… é aí que muita gente se engana e confunde as coisas. Mas, até o final desse texto, você vai entender o que é inflação, como ela funciona, como antecipá-la e o melhor, como aproveitá-la para ganhar ao invés de gastar dinheiro – mas se você não conseguiu fazer isso e agora está sofrendo, vou pelo menos te ajudar a passar por ela melhor.
Sou Filipe Rodrigues, sócio-fundador da Hunter Investimentos, e vou te mostrar que a inflação pode ser uma grande oportunidade para ganhar dinheiro. Primeira coisa que precisamos entender é que, no mercado, tudo tem um motivo e tem um preço, nada é por acaso. Adam Smith, considerado o pai do capitalismo, criou um termo chamado “mão invisível”, que é um equilíbrio natural onde tudo se equaliza.
Quando surge um bairro novo, ninguém precisa ir lá e definir que precisa ter uma padaria, a “mão invisível” se encarrega disso. Todos no novo bairro têm que ir no bairro vizinho para comprar pão e gastam mais tempo e combustível com isso. O pão francês lá é, digamos, R$0,50 (cinquenta centavos), e um empreendedor percebe aí uma oportunidade de negócio e resolve, então, vender o pão no bairro novo por R$0,60 (sessenta centavos). Se a qualidade é a mesma, é natural que os novos moradores paguem um pouco mais caro pela comodidade de comprar no próprio bairro e economizar tempo e combustível. Mas se a padaria começa a vender o pão por, digamos, R$0,90 (noventa centavos), com certeza menos pessoas estarão dispostas a pagar esse preço mais alto, mas, ainda sim, ele encontra mercado vendendo menos pão e ganhando mais por ele.
É uma forma de reduzir custo e aumentar a qualidade, mas a “mão invisível” está de olho nessas distorções e um novo empreendedor vê uma oportunidade de montar uma nova padaria e vender o pão por R$0,80 (oitenta centavos). Esse ciclo se repete até oferta e demanda se equilibrarem, encontrando um ponto ideal de valor que as pessoas estejam dispostas a pagar versus o custo do produto com margem de lucro adequada.
Aqui já começamos a entender um pouco melhor como funciona a inflação, mas antes de irmos adiante preciso explicar um outro conceito além da Oferta e Demanda entendido acima. Vamos falar dos intervencionismos e como eles prejudicam a economia.
Muita gente acha que, para resolver a inflação, o governo deveria reduzir o preço das coisas na “canetada”. Temos um ótimo exemplo de um outro economista, um pouco menos conhecido que Adam Smith, mas igualmente importante: o liberal Ludwig von Mises, em uma palestra explicando sobre o modelo liberal. Mises mostra como o governo, ao tentar controlar o preço das coisas, mais atrapalha do que resolve.
Um pecuarista que tem uma fazenda para produção de leite tem um custo de R$1,50 (um real e cinquenta centavos) por litro de leite e, para ter lucro, ele vende a R$2,00 (dois reais). Algumas pessoas acham que o leite está caro e que por isso o governo deveria forçar os pecuaristas a diminuir o preço de venda do leite. Mas vale lembrar que, com o preço a R$2,00 (dois reais), as pessoas vão tomar escolhas racionais, ou seja, irão renunciar a outros produtos e serviços para comprar leite se no seu julgamento entenderem que o leite é uma prioridade, como famílias com criança, por exemplo. Jovens que moram sozinhos, entretanto, tomariam menos leite para encomiar (investir) em outros produtos. Existe um equilíbrio entre oferta e demanda e um lucro que compensa o risco do empresário, afinal, se ele tiver perda na produção, animais e produtividade, o risco e prejuízo é apenas dele.
Mas, o governo resolve abaixar o preço do leite para R$1,50 (um real e cinquenta centavos), e vamos ver o que acontece. Com essa redução, mais pessoas decidem tomar leite, afinal, ficou mais barato do que outras bebidas. Quem já tomava leite se sente estimulado a tomar ainda mais, e aí temos um desequilíbrio de aumento de demanda; já a oferta tem uma queda brusca, afinal, o produtor agora não terá mais lucro. Ele assume um risco grande de produzir com qualidade, impostos, empregos, custos operacionais para, no final do mês, não ter nenhum ganho real. E como toda empresa visa o lucro (às vezes nos esquecemos disso), ela decide então parar de produzir e começa a faltar leite nos supermercados. Novamente as pessoas voltam a reclamar, agora não pelo preço, mas pela falta de produtos. Famílias que precisam do leite (no exemplo, aquelas com criança) terão menos acesso ao produto porque outras pessoas que não necessitam estão consumindo-o, por estar mais barato do que outras bebidas.
Para resolver o problema, o governo resolve mais uma vez intervir, agora colocando cotas. Famílias com crianças terão direito a 1 litro de leite por dia, enquanto jovens solteiros não terão mais direito de compra. Mais uma vez as pessoas reclamam, alegando que alguns jovens precisam do leite como suplemento alimentar, e novas regras e cotas vão surgindo, até que o governo conversa com os produtores para saber por que eles não aumentam a produção, e escutam que os insumos ou a matéria-prima estão muito caros para o gado continuar produzindo leite. Sabiamente, o governo então resolve abaixar o preço das matérias-primas. Ok, podemos parar por aqui esse exemplo, já deu para entender que a “mão invisível” de Smith resolve o problema de forma mais eficiente. Mas ela gera inflação.
E, na prática, o que é inflação?
Inflação é o aumento repentino dos produtos e isso tem vários motivos: custos mais altos, menor concorrência, produtos destinados a pessoas que estão dispostas a pagar mais pelo produto. Um período de seca, por exemplo, força o produtor a vender menos produtos e mais caros para ter lucro e comprar mais sementes para a próxima safra. Uma supersafra já faz o processo inverso. O agricultor agora precisa vender mais produtos e abaixo do preço para vendê-los antes que estraguem. Mas tudo bem, porque ele irá vender uma quantidade maior.
Até aqui já entendemos como a inflação funciona e para que serve, então não dá para simplesmente acabar com ela, mas dá para melhorar a forma como lidamos.
E como prevê-la?
Um empresário da indústria têxtil pode perceber que de repente seus clientes estão demandando (comprando) mais de seus produtos, e ele observa que isso está acontecendo também com seus concorrentes. E como ele sempre está em contato com seus fornecedores, sabe que eles estão na sua capacidade máxima de produzir, e então percebe que vai faltar tecido no mercado daqui a alguns meses e, por isso, aproveita esse desequilíbrio para comprar mais e mais estoque. Se sua previsão e análise se confirmarem, em poucos meses os seus concorrentes comprarão tecidos mais caros e, consequentemente, o produto final será vendido mais caro. Mas como seu estoque foi comprado antecipadamente a preços mais baixos, ele agora terá um lucro maior nesse estoque.
A inflação é uma ótima ferramenta para equilibrar oferta e demanda. Se ela ocorrer por aumento da margem de lucro (é o tipo mais raro de inflação, mas o que a maioria das pessoas erroneamente acha que acontece), o mercado se regula trazendo mais players para o mercado e equilibrando oferta e demanda.
Antecipar e identificar ciclos de inflação não é tão difícil, mas requer atenção contínua. Toda vez que a população tem fácil acesso ao dinheiro, ao crédito, a empréstimos, aumento de renda, promoções e taxas de juros baixas, ela parte para o consumo. Se a indústria, comércio e serviço não estão preparados para atender tantos desejos no curto prazo… hum… já sabe, né?! Teremos aumento de preços, ou seja, inflação.
Ok, entendi. Mas já perdi essa oportunidade, o que devo fazer agora? Não é a melhor resposta de se ouvir, mas sem dúvidas é a mais adequada. Diminua seus consumos. Sim, isso mesmo, pare de gastar, comprar e, principalmente, financiar ou pegar dinheiro emprestado.
Um carro que era vendido há seis meses por R$100 mil (cem mil reais) só será negociado a R$130 mil (cento e trinta mil reais) se alguém aceitar pagar. Se esse bem é essencial, veja bem, essencial e não apenas um objeto de desejo e vale seu esforço em adquiri-lo, ok; mas se não é, não entre na moda, espere uma oportunidade de compra mais barata a preço justo. Se estiver muito caro, o mercado se regula sozinho, terá mais empresas vendendo o mesmo produto, às vezes com qualidade até superior e mais barato.
Nenhuma economia sobrevive com inflação alta por muito tempo e o remédio mais comum utilizado para combatê-la por Bancos Centrais é a elevação da taxa de juros. Ou seja, uma forma direta do consumidor pagar mais caro no empréstimo, financiamento e parcelamento para justamente evitar o consumo, equilibrando oferta e demanda. Tomar dinheiro emprestado nesses momentos é muito mais caro e só deve ser feito em casos extremos.
Espero ter te ajudado a entender como a inflação funciona. Ela não é um vilão, é parte de uma solução. Mas se você não se antecipar, ela pode ser bem prejudicial. Por isso, saber como ela funciona e antecipá-la pode te fazer ganhar um bom dinheiro. Até a próxima!
– Filipe Rodrigues – Sócio-fundador da Hunter Investimentos