CARTA ABERTA AOS DESANIMADOS
“…E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século.” (Mateus 28.20b)
A vida cotidiana é desafiadora. Alguém disse, certa vez, que “viver é um risco”. Pode ser. Mas, além disso, sempre estaremos no confronto diário da existência; debaixo do sol, Salomão disse que não tem novidade, mas cada dia tem lá seus males. Portanto, pela simples razão de estarmos vivos, as lutas, os dissabores, as decepções e, ao mesmo tempo, as alegrias, as festas e as ações de graças ocuparão o mesmo espaço. Um antagonismo previsto (leia Gênesis 3.17-18).
Diante desse quadro, é natural que, por vezes, o sentimento de desânimo, de “perder as forças” seja a definição das conversas. Perceba! Ao cumprimentar alguém com a pergunta: “como você está?”, é normal ouvirmos: “É… estou indo…”. Parece que em todo canto, em cada um, o “ponteiro de combustível” marca a zona de reserva. Será que estamos andando com os tanques vazios? Só “no cheiro”? Será que como naquela definição futebolística, “estamos correndo errado”? Pode ser. Ocupamos as agendas com uma infinidade de tarefas, encontros, decisões e desejos. Mas, ao final do dia, do mês, do ano, pouquíssimos feitos. Isso pode ser desanimador.
Conceitualmente, o sentimento de desânimo pode se caracterizar por um “estado emocional” marcado pela ausência de motivação, desejo, energia (g.n) ou mesmo interesse na concretização de tarefas ou realizações do dia a dia. Esse desânimo, dizem os profissionais da saúde, costuma manifestar-se na insensibilidade, no desinteresse e mesmo numa espécie de desesperança. Tais sentimentos, conforme atestam os cuidadores da saúde (psicólogos, principalmente), têm origem em variados fatores, desde aquilo que era esperado e não aconteceu até alguma “sobrecarga emocional”, relações pessoais ou estresse, e a “famosa” ansiedade. Ah! Essa é a principal vilã. E acredite: ela afeta até a fé. Desanimar-se é um passo para desistir. Isso não é nada bom.
Longe a ideia de deixar aqui nestas linhas uma “receita de bolo” para que você tenha sempre um espírito animado. O propósito é tão somente apresentar algumas dicas que podem ser relevantes para os seus dias mais “arrastados”. Frases prontas como: “não fique desanimado”, “vamos lá”, “ponha ânimo nisso aí” não resolvem muito, exatamente porque o desanimado sabe que tem que mudar seus sentimentos. A pergunta é sempre a mesma. Ecoa num mesmo tom. Como? Um autor motivacional (coach) que li resume esses momentos com uma frase: “se fosse fácil, todo mundo faria”. Mas não nos esqueçamos da viva esperança na qual confiamos. O nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, nos chama para uma vida encorajada. Esse é o primeiro e principal passo. Voltaremos nesse ponto daqui a pouco.
Assim, seguem abaixo algumas sugestões para que o caro leitor possa vencer o desânimo e ter dias mais, digamos, encorajados:
1) Organize o seu dia – comece com uma agenda simples. Não encha de tarefas ou propósitos que sabidamente não irá cumprir. O seu trabalho, por exemplo, já é objeto de principal atenção. Portanto, se pretende acrescentar algo a ser feito no seu dia, é preciso que seja simples, “satisfatório” (como dizem os adolescentes) e realizável. Tente algo fácil, mas bom e dentro do espaço de tempo disponível;
2) Deixe o caminho livre – quando era criança, ajudava o meu pai em algumas tarefas. Por vezes, objetos deixados no caminho dificultavam a locomoção. Então, uma frase dele para a instrução deste que vos fala era: “deixe o lugar de passagem sempre limpo” (entenda: desobstruído). Se você quer iniciar o seu dia com uma caminhada, por exemplo, deixe tudo arrumado. Roupa, tênis, garrafa d’água. Ter que ajeitar as coisas no momento de iniciar uma tarefa poderá desanimá-lo, caso algum objeto importante não seja encontrado. Então, deixe o seu caminho desobstruído, preparado para passar;
3) Estabeleça rotinas – à medida que conseguir inserir atividade(s) na agenda organizada, considere mantê-las como parte da rotina diária. Ou seja, não invente outras coisas para fazer no dia e horário já ocupado. Esse é um passo importante para quem, por exemplo, quer começar a ler a Bíblia, ter uma jornada de oração ou colocar em dia a leitura de um bom livro;
4) Seja disciplinado – na carreira militar não há muita escolha. A escala de serviço representa para o militar uma ordem a ser cumprida, cuja falta, se não justificável, resulta em punição. Você pode ser flexível, mas não relapso. Você pode abrir exceções, mas elas não devem “virar” regra. Tenha foco. A disciplina requer uma certa dose de sacrifício. Iniciar uma vida de oração, por exemplo, irá exigir disciplina. Então, proponha no coração que “regra é regra”;
5) Compartilhe os resultados – à medida que alcançar as metas pretendidas, compartilhe-as. Sempre há alguém com quem podemos contar para nos impulsionar. As realizações conquistadas são, num primeiro momento, algo que nos faz vibrar por dentro. Quando compartilhamos, conseguimos motivar outras pessoas e recebemos, ao mesmo tempo, mais incentivo. Tenha uma rede de gente boa e animada que segue em jornada com você;
6) Abandone hábitos ruins – velhos hábitos e vícios devem ser abandonados. Ocupar o tempo livre com o nada, somente se for para o descanso. O hábito de ficar à toa, por si só, gera uma estagnação horrível e, como consequência, o desânimo. Não se dê ao luxo de perder tempo com insignificâncias. Além de não acrescentar, furta aquilo que foi conquistado;
7) Ocupe a mente com o que é bom – o conselho do apóstolo Paulo aos filipenses é este (leia Filipenses 4.8). Alguém disse certa vez que “um passarinho pode pousar na sua cabeça, mas não pode fazer ninho (a não ser que você permita)”. Pensamentos podem desencorajar. Portanto, “traga à memória o que dá esperança” (leia Lamentações 3.21). A ideia aqui não é só “pensar positivo”. É voltar-se para o que a Palavra de Deus diz a respeito. Pense sob a perspectiva da vida eterna proposta aos que creem no Nome de Jesus;
8) Não se afunde em preocupações – Uma mensagem ecoa nos meus ouvidos enquanto escrevo esta linha. “…aos seus amados Ele o dá enquanto dormem” (leia Salmo 127.2). Ocupar-se de “forma prévia”, sob a visão do “pode ser” ou “pode não ser”, traz aborrecimento, ansiedade e desânimo. É claro que não se trata de estímulo à indiferença diante de situações que exigem postura, decisões, “pensar numa saída”. A ideia é de uma investida que suga as energias voltada para situações desconhecidas e de meras possibilidades remotas ou sem sentido, ou sobre algo que já foi e não se poderá refazer ou recuperar;
9) Ansiedade versus fé – O Senhor Jesus Cristo deu a maior tratativa que se tem sobre a ansiedade. É uma vã inquietação, para qual a esperança da promessa diz: “…vosso Pai Celeste sabe que necessitais…” (leia Mateus 6.25 a 34). Ansiedade é algo frustrante e desanimador, à medida que o desejo ou a preocupação não se concretizam. Spurgeon disse, sabiamente, que “um homem ansioso não pode orar com fé”. É fato! A ansiedade rouba a fé, porquanto desanima a esperança. Vencer a ansiedade é um desafio. Um bom exercício é pacientar-se na oração. Não é “mera coincidência” que a Bíblia nos recomenda ser perseverantes na oração (leia Romanos 12.12). Verdade é que não se pode agir sobre aquilo que está fora do nosso controle. A fé se fortalece na alma que sabe perseverar na paciência;
10) Irritações e brigas – o dia a dia proporciona pulsos de irritações. O trânsito é, para muitos, o ambiente de maior irritabilidade. O relacionamento familiar conturbado também gera a raiva. As agitações por causa “das gritarias”. E não há nada que canse tanto o ser humano quanto o “elevado batimento cardíaco”. O salmista, autor inspirado, aconselha: “deixa a ira, abandona o furor; não te impacientes; certamente, isso acabará mal” (leia Salmo 37.8). Recomenda-se que o “quanto depender de você, tenha paz com todos” (leia Romanos 12.18). Uma vida na beligerância é, por vezes, muito desgastante e desanimadora. Se esforce por paz.
Finalmente, a proposta e desejo é que você, querido irmão, servo e salvo de nosso Senhor Jesus Cristo, chamado das trevas para a luz, ande cada vez mais fortalecido na esperança; renovado na fé; ciente de que as misericórdias do Eterno Deus “correm atrás de nós” a cada manhã (leia Salmo 23.6). Assim, não há razões que sobreponham o desejo de seguir firme na carreira da fé, sabendo que “…no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (leia 1 Coríntios 15.58). Não desanime. Renove-se no Senhor!
Pr. Edson Gonçalves – Pastor Auxiliar