Menu

Estudos e artigos

AVANCE E VENÇA NO USO DOS DONS ESPIRITUAIS

Romanos 8.3-8 

Quando lemos o Novo Testamento, nos deparamos algumas vezes, nas cartas de Paulo, com uma realidade bem presente na igreja daquele tempo, mas que ainda desperta em nós algumas dúvidas. Paulo nos fala sobre alguns dons espirituais, que muitas vezes podem parecer poderes mágicos e místicos dados pelo Espírito aos que são mais crentes e que, agora, passam a ter capacidades de saber o futuro, ou fazer milagres, curar pessoas e outras coisas que nossa imaginação nos permite pensar. 

O assunto “dons espirituais” aparece de forma mais clara em três passagens diferentes, nas quais Paulo lista dons que o Espírito concede aos crentes. Você pode ler estes textos em: 1 Coríntios 12 e 14; Efésios 4.1-16; e o texto sobre o qual refletiremos hoje: Romanos 12.3-10. 

Em primeiro lugar, fica a necessidade de se definir o que é um dom espiritual. Christian Schwarz define dom como uma habilidade especial que o Espírito Santo dá a cada membro do corpo de Cristo – de acordo com a graça de Deus – para edificação da igreja (SCHWARZ, Christian. O Teste dos Dons. Editora: Esperança. 1998). 

Em primeiro lugar, devemos compreender que o dom é algo diferente de um talento natural. Mas você pode se perguntar, por exemplo, em que o dom de ensino se diferencia do talento que tem o melhor professor do mundo. A questão que deve estar em vista quando diferenciamos dons espirituais de talentos naturais é que o dom é dado pelo Espírito e serve para edificar a igreja. 

O melhor professor do mundo pode dar uma aula perfeita, seguindo os métodos mais consistentes de nosso tempo, que, mesmo assim, ele será incapaz de produzir a edificação. Nesse sentido, o irmão mais simples e iletrado, se estiver revestido do poder do Espírito, pode na sua limitação de linguagem e técnica comunicar mais verdades espirituais que o grande professor. Isso porque a edificação que falamos ocorre no espírito e não no intelecto. Dessa forma, esta habilidade que tem por propósito a edificação da igreja só ocorre à medida que o Espírito de Deus concede dons à Sua Igreja. 

É evidente que talentos naturais podem e são frequentemente usados pelo Espírito de Deus na edificação da Igreja. É como se, nos crentes, por diversas vezes, o Espírito revestisse nossos talentos naturais com dons espirituais. Sendo assim, habilidades que você tenha desenvolvido ao longo de sua vida podem, agora, ser revestidas do poder do Espírito e receberem um novo propósito, sendo convertidas em dons espirituais para edificação da Igreja. 

Tudo isso deve nos humilhar dentro de nossas habilidades, para entendermos que não é nossa capacidade que edifica, mas o Espírito de Deus que usa nossa imperfeição para edificar a Igreja. 

Tendo compreendido essas questões iniciais sobre os dons, algumas lições devem ser aprendidas: 

1ª) Os dons foram dados a CADA UM 

O versículo 3 do texto que estamos meditando cita por duas vezes a expressão (cada um), e lendo 1 Coríntios 12.7 veremos novamente Paulo dizer que os dons foram dados “a cada um”, e ainda que os dons são distribuídos “individualmente” (1 Co 12.11).  

Sendo assim, podemos facilmente concluir que todos os crentes no Senhor Jesus recebem, do Espírito, dons espirituais. É evidente que os dons não são os mesmos; Paulo nos alerta para essa realidade quando diz: “os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo” (1 Co 12.4), ou ainda quando afirma: “tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada” (Rm 12.6). 

A multiforme sabedoria de Deus deu a cada membro do Corpo de Cristo um dom diferente, para que em todos os aspectos a Igreja fosse edificada. Isso nos leva à nossa próxima lição: 

2ª) Os dons não devem ser classificados em hierarquia 

Se a igreja necessita de edificação em todas as áreas, todos os dons são igualmente importantes. Caso todos na igreja tivessem o mesmo dom, como a ela seria edificada nas demais áreas? Se todos fossem mestres, quem nos conduziria no louvor? Se todos fossem músicos, quem pregaria? E se todos pregassem, quem serviria na sonoplastia? 

Paulo, abordando justamente essa questão, trata dos dons, referindo-se à igreja como um corpo. Ele nos diz que, assim como o corpo possui muitos membros, tendo cada um deles sua função, assim é com a Igreja no uso dos dons. Existem vários deles, cada um com sua importância (Leia Romanos 12.4-5 e 1 Coríntios 12.12-27). 

Nesse ponto, alguns podem se perguntar: como não há hierarquia, sendo que Paulo afirma “quem profetiza é superior ao que fala em línguas” (1Co 14.5)? Aqui, devemos ter muita atenção, pois o que Paulo trata em 1Co 14 é sobre o falar em línguas sem interpretação. O versículo 4 nos ajuda a entender o contexto do que Paulo está escrevendo: “o que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja”. 

Fica evidente que Paulo está tratando sobre o propósito dos dons, que servem para edificação da Igreja (1 Co 12.7). Sendo assim, o melhor dom é aquele que mais edifica a Igreja. É por isso que Paulo, no versículo 5, ao dizer que quem profetiza é superior a quem fala em línguas, afirma em seguida: “salvo se as interpretar”; o que nos mostra que a questão não é sobre o dom ser maior ou menor, mas sobre quem está sendo edificado. Se as línguas forem interpretadas, toda igreja será edificada e o dom, então, terá a mesma importância que o profetizar.  

Dessa forma, o melhor dom é o dom que mais edifica, e o dom que mais edifica não é o X ou o Y. Em uma igreja onde há muitos pregadores e nenhum músico, certamente será mais necessário e mais proveitoso receber alguém que possa servir na área da música.  

Assim, a importância de um dom depende da necessidade da igreja. Portanto, se falta algum dom, ele se torna ainda mais essencial. É justamente por isso que, falando sobre o corpo, Paulo nos diz que os membros que nós consideramos como menores são os mais necessários, uma vez que, faltando-os, o corpo não estaria completo (1 Co 12.22-23).  

Reflita sobre a exortação de Paulo em Romanos 12.3, sobre não se achar mais importante do que convém.  Nenhum dom ou crente é mais importante que o outro! 

3ª) Os dons devem ser usados com dedicação 

Considerando que você recebeu dons do Espírito como membro do Corpo de Cristo e sabendo que seu dom é tão essencial como qualquer outro, o convite de Paulo é para que usemos nossos dons com dedicação (Rm 12.6-8). 

Os dons nos foram dados para serem usados. Não faz sentido receber habilidades tão especiais – do Espírito – e mantê-las escondidas. Todo crente é chamado para servir à igreja com os dons que Deus lhe deu. Isso inclui você!  

Talvez você ainda não saiba qual o dom Deus te deu. Em parte, isso acontece porque consideramos dons apenas aquelas habilidades espetaculares. Repare que, das listas de dons que Paulo nos apresenta, nenhuma é igual à outra. Isso nos ensina que os dons não estão limitados àqueles que foram escritos na Bíblia. Toda habilidade que pode edificar a Igreja pode ser um dom. 

Quer descobrir qual o seu dom? Comece a servir. Disponha-se a ajudar naquilo que sua igreja precisa. Pergunte a seu pastor e a seus líderes como você pode ajudá-los. Rapidamente você perceberá que Deus irá te usar em áreas específicas, edificando outros irmãos por meio de sua vida. Eis aí o seu dom! 

Por fim, repare que para cada dom Paulo fala a forma como este deve ser utilizado. Isso porque essas habilidades, dadas pelo Espírito, devem ser desenvolvidas e exercidas sempre da melhor forma possível. Sabendo, ou tendo descoberto seu dom, você tem o dever de desenvolvê-lo para cada dia servir melhor à Igreja do Senhor. Tendo recebido tão grande graça de Deus, ame sua Igreja e sirva-a! 

– Pr. Gustavo Quirino – Pastor Auxiliar