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Estudos e artigos

AUTOCONFIANÇA X SOBERBA

Deus criou o ser humano para ser essencialmente relacional, a fim de que valores, afetos e atitudes, necessariamente, sejam compartilhados consigo mesmo e com os outros. Ao longo de sua existência o homem acumulou valores que afetam substancialmente os afetos e as atitudes. Dentre eles está a autoconfiança – característica da personalidade humana, a qual se tem confiança em si mesmo e nas habilidades e qualidades adquiridas, pelo conhecimento aliado à experiência. 

Por ser matéria de competência pessoal, o autoconfiante é dotado de um alto grau de reflexão e análise de seus atos. Uma pessoa autoconfiante é determinada, segura, decidida, resoluta e firme. Dentro da definição, uma personalidade humana autoconfiante é benéfica e importante para a saúde e o bem-estar psicológico. Um nível saudável de autoconfiança pode ajudar a ter sucesso na vida pessoal e profissional. 

Mas, e quando a autoconfiança se torna nociva? E quando ela extrapola o nível saudável e se torna maligna? Como identificar esse limite? Para responder satisfatoriamente a essas perguntas, precisamos voltar às Escrituras e conhecer o homem ontologicamente (natureza do seu ser), e saber teologicamente o que aconteceu com ele.

Em Gênesis 1, pela Sua Palavra poderosa Deus criou todas as coisas, nos céus e na terra, e por último criou o homem e depois a mulher conforme a Sua imagem e semelhança (Gn 1.26-27), tudo criado em perfeita harmonia. Em Sua graça e amor, Deus criou o ser humano conforme a Sua “imagem” no que se refere à personalidade e intelectualidade. A natureza de Seu Ser era original, íntegra, perfeita e santa. Contudo, pela cobiça, desobediência e desejo de ser independente de Deus, o homem e a mulher pecaram deliberadamente e sofreram os prejuízos.  

Deus disse: “…certamente morrerás” (Gn 2.17); o diabo disse: “…É certo que não morrereis” (Gn 3.4); ouviram e atenderam a voz do segundo. A morte, o caos e a desordem se estabeleceram na criação por causa do pecado do homem. A personalidade do homem foi afetada na essência de seu ser. O que tem a ver esse relato bíblico com autoconfiança? Tudo!

A autoconfiança como um traço da personalidade humana fora afetada. O ser humano sabe o que é correto fazer, mas não o faz. Conhece os limites, mas extrapola-o. Sabe que deve obedecer, mas desobedece. A vontade humana, seus valores, afetos e atitudes foram profundamente afetados. Por causa disso, a autoconfiança em excesso muda radicalmente sua definição, quando busca flertar com a “prima maligna” chamada soberba.

Infelizmente, o homem não sabe lidar com os limites de sua personalidade corrompida pelo pecado. Em Romanos 7.19 diz: “Porque não faço o bem que prefiro, mas, o mal que não quero, esse faço”. A autoconfiança se funde com a soberba e se transforma num monstro cheio de tentáculos peçonhentos e mortíferos, fazendo nascer o orgulho, a altivez, a arrogância, o convencimento e a autossuficiência.

Contudo, Deus infinito em poder e misericórdia, mais uma vez, e definitivamente, entra no tempo e na história; “E o verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). Somente por meio da morte e ressurreição do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o ser humano pode restaurar sua vontade, seus valores e afetos. Cristo reconciliou “todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus” (Cl 1.20). Somente por Ele o ser humano é totalmente restaurado.

A união com o Cristo ressurreto dá ao cristão um padrão de vida elevado e consistente. Com Cristo morremos para o mundo, ressuscitamos para Deus e seremos um dia glorificados n’Ele. “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou que andássemos nela” (Ef 2.10). 

Nossa autoconfiança precisa ser redimida, pois ela é uma bênção e dádiva de Deus, quando se é construída na dependência d’Ele. Não somente promove crescimento pessoal e profissional, mas principalmente espiritual, portanto, construamos nossa autoconfiança não em nós mesmos, mas em Deus por meio de Jesus Cristo, o Senhor.

 

– Lic. Milton Fernandes – Licenciado