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Estudos e artigos

ALCANÇAR E CUIDAR: O PODER DA SANTIDADE

(Atos 4.32 – 5.11) 

A princípio, histórias como estas de Atos nos assustam, afinal, quem nunca mentiu, que atire a primeira pedra. Apesar de sabermos que a mentira é um pecado, não esperamos dela uma consequência tão severa quanto a que nos deparamos neste texto (At 4.32-5.11). 

Por que será que Deus tratou com tanta severidade o pecado de Ananias e Safira, enquanto outros pecados nos parecem permanecer encobertos e impunes? 

Para compreendermos o texto é preciso entender o objetivo dele dentro da narrativa de Atos. Lucas, nos cinco primeiros capítulos de Atos, narra como a igreja surge, após a descida do Espírito, e como era a vida dessa igreja. Nesse cenário inicial, vemos uma figura muito importante no contexto judaico, o templo.  

O templo é citado 12 vezes entre os capítulos dois e cinco do livro e é representado como o lugar de reunião diária da igreja (At 2.46, 5.42). Quando observamos o templo ao longo de toda a revelação, percebemos que ele representa a presença de Deus entre o povo, e que é tratado com máximo temor e reverência, principalmente o Lugar Santíssimo. 

A presença de Deus deveria ser respeitada e temida por todo o povo, afinal, Ele é fogo consumidor (Êxodo 24.17, Hebreus 12.29). Mas se por um lado na narrativa de Lucas o templo tem destaque até o capítulo cinco, a partir do capítulo seis ele parece ter ficado esquecido, retornando apenas no capítulo 21, e mesmo assim, sem o sentido de local de reunião da igreja. 

Outro detalhe que pode passar despercebido é que, se o termo “templo” perde seu lugar de destaque no livro de Atos, outro termo toma o seu lugar. No capítulo cinco vemos pela primeira vez Lucas se referir aos seguidores de Cristo como “igreja”. 

O que se percebe é que claramente a igreja se torna o lugar onde Deus age; ela se torna o local da manifestação do Espírito e da presença gloriosa do Senhor. A igreja é o novo templo. 

Se lermos a história da inauguração do tabernáculo no deserto e a inauguração da igreja, perceberemos que o relato de Ananias e Safira se parece muito com a história de Nadabe e Abiú, que, ao serem consagrados sacerdotes, apresentam na presença de Deus “fogo estranho” (Levítico 10.1-2), sendo consumidos pelo Senhor. 

Ambas as histórias aparecem num mesmo contexto, a inauguração desse lugar’ que agora é o local da manifestação da presença de Deus. Elas nos lembram que a presença de Deus é, para nós, um privilégio e uma responsabilidade, afinal, foi Ele quem disse: “Sede Santos, porque eu sou santo” (1 Pedro 1.16). 

A igreja deve entender que a graça e a misericórdia com as quais nós nos habituamos não anulam a santidade de um Deus que não convive com o pecado. E assim como a morte de Ananias e Safira gerou grande temor em todo o povo, essa história deve despertar grande temor em nosso coração enquanto vivemos na presença de Deus. 

Esse temor, por sua vez, deve produzir em nós o sentimento de urgência na santificação diária. Mais que apenas respeito por Deus, o temor nos lembra que Ele é justo. Tão justo que, para tirar o nosso pecado, Ele mesmo morreu. 

Esse temor gera em nós uma parcela de medo, não da condenação, pois sabemos que fomos livres dela (1 João 4.18), mas o medo de ofendermos a Deus com nossos pecados depois de tudo o que Ele fez por nós. 

Como nos diz a Escritura, “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Provérbios 9.10) e ainda: “temer a Deus é odiar o mal” (Pv 8.13). 

– Pr. Gustavo Quirino – Pastor Auxiliar