A voz do homem x a voz do Espírito Santo na pregação
Quem nunca, ao ouvir um sermão, seja na igreja, seja on-line, não teve a nítida impressão de que o próprio Deus estava falando ao seu coração, ainda que as palavras estivessem saindo da boca de um ser humano? Ao mesmo tempo, quem nunca escutou algo estranho vindo da boca de um pregador, como uma opinião ou uma frase considerada sem sentido?
A pregação da Palavra de Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento, sempre esteve cercada dessa dubiedade: a voz de Deus misturada às vozes humanas, o perfeito em meio ao imperfeito. No Antigo Testamento, o Senhor escolheu usar pessoas de carne e osso para transmitir sua vontade para a nação de Israel. Enquanto os reis e outras lideranças pendiam para a idolatria e o afastamento da Lei de Moisés, Deus se recusava a deixar seu povo escolhido à mercê de tamanha opressão, levantando profetas em todas as gerações para conclamá-los a retornar ao caminho da Aliança.
Essa voz de Deus chegou ao seu ápice na encarnação. João abre seu evangelho chamando Jesus de a própria Palavra, o Verbo de Deus (Jo 1.1). Essa, sim, era a voz perfeita. Nada que saía da boca de Jesus tinha um vislumbre qualquer de erro. Seu ensino era preciso e com o poder de sua palavra ele curava, libertava e ressuscitava pessoas. Jesus era o perfeito profeta e mediador (Hb 9.11-12), elevando a experiência da presença de Deus entre os homens de forma exponencial (Jo 1.14).
Jesus morreu, ressuscitou e subiu aos céus, enviando o Espírito Santo como nosso novo ajudador na caminhada de segui-lo (Jo 16.13). Esse mesmo Espírito é o doador dos dons espirituais que atuam na edificação da Igreja e na pregação do Evangelho, inicialmente por intermédio dos apóstolos, e depois na vida de cada crente.
Na pregação da Palavra, no púlpito e fora do púlpito, o Espírito Santo usa os discípulos de Cristo como usou os apóstolos. Vemos falhas em Pedro, Paulo e os demais, e mesmo assim Deus os usou para comunicar a sua perfeita Palavra. Somos igualmente arautos, anunciadores da Palavra de Deus, ainda que imperfeitos e falhos. Exatamente por isso, a Palavra de Deus escrita, Antigo e Novo Testamentos, é a nossa régua de medida para qualquer mensagem bíblica.
A tensão entre a voz humana e a voz divina em nenhum momento amortece a importância da pregação. Pelo contrário, mostra-nos um Deus que, à parte de Jesus, não aguarda perfeição para poder usar seus mensageiros. Assim, podemos e devemos anunciar as boas novas do Evangelho mesmo que não estejamos inteiros, mesmo que não compreendamos totalmente a mensagem, mesmo que não sejamos os melhores oradores. Em nossa fraqueza, Deus se mostra forte (2 Co 12.10), pois é em vasos de barro que a glória de Deus mais brilha (2 Co 4.7).
Pr. Luís F. Nacif – Pastor Auxiliar