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A fórmula do casamento feliz

“O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba.” (1 Co 13.4-8)

Existe uma fórmula secreta para se construir uma história de amor? Um pouquinho de carinho aqui, mais uma medida de respeito ali… Qual é o segredo para um relacionamento feliz e duradouro? O Sr. Francisco Domingos de Abreu, 93 anos, e Sra. Dila Alves de Abreu, 91 anos, estão casados há 71 anos. Já celebraram a chamada “Bodas de Zinco” e parecem ter descoberto esse segredo.

Eles se conheceram no interior. Eram vizinhos e próximos desde a infância. Na juventude se apaixonaram. Naquele tempo, o que mais chamou a atenção do senhor Francisco foi a voz de dona Dila: “Ela cantava no coral da igreja”. Já a esposa ficou encantada pelo jeito do rapaz: “Eu era apaixonada pelo Francisco e pelo seu jeito, por ser muito trabalhador”, conta.

O namoro naquela época era bem diferente, nada de passeios sozinhos ou andar de mãos dadas: “Era só olhar um para o outro, nem conversávamos muito, sempre tinha alguém vigiando”, lembra D. Dila. Ainda assim, eles demonstravam o interesse e carinho que tinham um pelo outro de uma forma singela, como completa o Sr. Francisco: “Na casa da Dila tinha um quintal com muitas frutas, e ela guardava para mim as melhores”.

O pedido de casamento veio depois de um “aperto” da moça, como garante o Sr. Francisco, mas Dona Dila afirma que não se lembra desse momento. E foi no dia 29 de maio de 1946 que se casaram. Não havia dinheiro para um vestido longo e pomposo, menos ainda para as alianças. Então foi com vestido curto e sem os anéis que se casaram. Inicialmente, foi sem a permissão da mãe do Sr. Francisco também. Dona Dila conta que não sabia o porquê, mas não tinha a aprovação e o afeto da sogra.

“Mamãe não queria o casamento de jeito nenhum. Disse que não daria a bênção e que eu não poderia ir para a casa dela. Mesmo assim, me casei”, confessa Sr. Francisco. Então, 15 dias depois, a noiva foi morar na casa da família: “Juntamos a mudança em uma carrocinha de mão e colocamos o enxoval: uma sombrinha que eu perdi no caminho, as roupinhas que eu tinha, um lençol e duas fronhas. As panelas compramos depois com dinheiro emprestado”, descreve D. Dila.

As diferenças com a sogra acabaram e, muitos anos depois, com a família já vivendo em BH, a nora serviu sua sogra com todo zelo: “Quando ela ficou doente, cuidei dela com amor e dedicação, como uma mãe, e ela me amou como filha”. Sr. Francisco também reconhece a mudança na relação das duas: “Se amaram como mãe e filha, nunca mais se separaram”, ressalta.

Depois do casamento, vieram tempos de dificuldade. Sr. Francisco era sapateiro em Dom Cavati e recorda os tempos complicados que passaram: “Casamos muito pobres. Hoje, vejo que Dila era a mulher que eu precisava para casar, passou comigo por tudo isso. Nós entramos na batalha, tivemos muitas lutas e sempre ajudando alguém na família”, avalia.

Precisavam mudar de vida, melhorar a situação para dar estudos aos filhos, como era do desejo do pai. Então, se arriscaram em um novo negócio, já explorado pelos irmãos: fabricação de vassouras. Sr. Francisco vendeu sua oficina de sapateiro e a família mudou-se para Governador Valadares. Lá os negócios não renderam como esperado e, mais uma vez, ele decidiu confiar na provisão de Deus: veio para a capital. Depois de algumas tentativas, a empresa deslanchou, possibilitando a criação e educação dos filhos. Mais tarde, a família vendeu a marca de vassouras.

Tiveram 11 filhos, um deles morreu ainda nos primeiros dias de vida, no hospital. Nunca deixaram de passar a eles o que tinham de mais valioso: a fé. “O mais importante foi lutar para criá-los na igreja, depois, lutar para dar educação”, elucida Sr. Francisco. Segundo o casal, a igreja é “o hospital para curar as doenças do pecado, nela aprendemos sobre a Palavra de Deus”. E a Oitava tem um papel importante nessa história: grande parte da família hoje congrega na igreja, inclusive o neto e Pastor Israel Abreu, que entrevistou o casal para esse texto.

O Culto Doméstico sempre foi uma rotina na casa da família Abreu. Eles contam que liam a Bíblia, cantavam louvores e oravam com os filhos todos os dias. Ainda hoje, o casal mantém a tradição de oração e leitura da Bíblia. Dona Dila ora a manhã inteira, já não consegue mais ler a Palavra. Senhor Francisco comenta que lê a Escritura todos os dias, já chegou até mesmo a ler toda a Bíblia em um mês.

E mesmo depois de tantos anos de relacionamento, eles não perdem a admiração, respeito e carinho um pelo outro: “Gosto muito do jeito dele. Ele é diferente. É de pouca conversa, meio teimoso, mas sempre foi cuidadoso e carinhoso. Quando eu adoeço ele fica jururu”, diz D. Dila. Sr. Francisco não é diferente: “O que eu mais admiro na Dila é a humildade. Uma mulher que cria 10 filhos cozinhando, lavando, lutando… Além disso, ela nunca teve um inimigo sequer”, classifica.

Juntos eles viram grandes mudanças do mundo, uma delas, o conceito e o valor da família, mas sempre firmes em suas convicções. Voltando à pergunta inicial do texto… A resposta deles foi objetiva e enfática: “Cristo em primeiro lugar. E depois nós dois. Esse é o nosso segredo”.