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Estudos e artigos

MARIA, A MÃE DO SENHOR

(Lucas 1.26-38) 

Maria é, certamente, uma figura singular no cristianismo. Se por um lado os muitos anos de tradição católica e o contexto social brasileiro a elevaram a uma posição de quase divindade, por outro a reação protestante acaba desprezando a importância de Maria na história da redenção. 

Primeiro, devemos compreender que Maria foi uma mulher como muitas outras que necessitava, ela mesma, da graça de Deus. Maria era da descendência de Eva e compartilhava, assim como todos nós, da maldição do pecado. Nesse ponto, fica evidente que rejeitamos a concepção imaculada de Maria e qualquer ideia de que ela não possuía pecado original, assim como rejeitamos que ela não pecou durante sua vida. 

O testemunho bíblico é claro e vasto no sentido de dizer que todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus (Romanos 3.23). Ademais, fica claro que só houve um que não pecou, a saber, Jesus Cristo, por meio de quem importa que sejamos salvos (Hebreus 4.15; 1 Pedro 2.22). 

Essas e outras ideias acabaram por construir em muitas mentes a ideia de que Maria é mais benevolente que o próprio Cristo, como se algum dia, porventura, Cristo negar Sua misericórdia, você poderia pedir a mãe, que o Filho atenderia. Ideias como essas trazem, inclusive, o risco de colocar Maria acima do próprio Cristo, o que nem na teologia formal católica é admitido. Contudo, para quem viu a cena do julgamento do filme “O Auto da Compadecida”, fica claro que, quando Jesus não foi capaz de salvar, a intervenção de Maria retirou as pobres almas das personagens do Inferno. 

O interessante é que o próprio Jesus é questionado sobre a importância de Maria. Em Lucas 11.27, uma mulher anônima exclama: “Bem-aventurada aquela que te deu à luz, e os seios que te amamentaram!”. Nesse ponto, Jesus tinha a oportunidade ideal para deixar registrado na revelação algo sobre Maria, e Ele, como Filho de Deus, diz: “Antes, bem-aventurados são os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam!”. 

Fica claro que a bênção e bem-aventurança não estão no fato de dar à luz a Cristo, mas no crer na Palavra de Deus (Lucas 1.45). Com isso, precisamos equilibrar a balança, no sentido de que Jesus não despreza Sua mãe com essa resposta, mas a coloca no lugar que ela deve estar, de alguém dependente da graça de Deus. 

Maria não foi agraciada apenas por ter carregado Cristo em seu ventre, mas pelo fato de que ela creu, e assim como todos os outros irmãos na fé que creram, recebeu bênção sem medidas da parte de Deus por meio de Cristo. Nesse sentido, podemos falar de Maria como a irmã Maria, filha de Deus, como eu e você, mas não devemos nos esquecer de que, na história da redenção, Maria teve um dos papéis mais importantes dentre os Homens. Isso nada tem a ver com nossa salvação, mas certamente devemos tratar Maria com toda honra, como o fez Isabel quando disse: “por que sou tão agraciada, ao ponto de me visitar a mãe do meu Senhor?”. 

Compreendendo o lugar de Maria e o fato de que Jesus é o centro de toda História, podemos ver no texto como é a graça de Deus, que nos coloca no lugar da bênção. Maria foi agraciada porque: 

  1. Creu na Palavra de Deus 

Como Isabel nos relata, Maria creu no que Deus lhe disse por meio do anjo. Vale lembrar que, no mesmo capítulo, Gabriel aparece duas vezes, uma à Zacarias no templo; e outra, à Maria. Enquanto Zacarias duvida, considerando a idade avançada, Maria crê e afirma: “eis aqui a serva do Senhor”. 

Maria não apenas creu na Palavra de Deus, mas demonstrou profundo conhecimento de toda a Escritura. O Cântico de Maria é o resultado da união de diversos salmos e do cântico de Ana (1 Samuel 1-10). 

Maria sabia das histórias de anjos que levavam a Palavra de Deus e, quando se encontra com Gabriel, sua fé nos salta aos olhos, principalmente para alguém tão jovem. Afinal, as moças eram prometidas em casamento logo após a menarca. 

2. Se dispôs, apesar das circunstâncias 

Além de crer na Palavra de Deus por meio do anjo Gabriel, Maria encerra seu diálogo com o anjo dizendo: “eis aqui a serva do Senhor”. Ficar grávida estando prometida em casamento levantaria suspeitas sobre seu caráter. Isso foi tão verdadeiro, que o próprio José queria anular o casamento secretamente. A gravidez, nesse contexto, seria um atestado da falta de fidelidade da mulher para com seu futuro marido. 

Para além de sua reputação, o fato é que a infidelidade, mesmo antes do casamento, como era o caso, deveria ser punida com a morte. Que pensamentos devem ter passado pela cabeça de Maria quando recebeu a notícia de que estaria grávida?! Que exemplo empolgante da mãe de nosso Senhor, que a despeito das circunstâncias contrárias, escolheu ser a serva do seu filho Jesus! 

 

– Pr. Gustavo Quirino – Pastor Auxiliar