PAI TERRENO X PAI CELESTIAL
O segundo domingo do mês de agosto é marcado pela celebração do Dia dos Pais. Até aí, nenhuma novidade. O que nem todo mundo se lembra nesse período é que muita gente não teve um pai, ou até teve, mas a relação com a figura paterna não foi das melhores. Talvez esta seja a condição atual de muitos: “Tenho pai, mas não nos damos bem. Não nos falamos há anos”. Se esse cenário lhe remete a sua própria história, te convido a parar por um instante e pensar em como você enxerga seu Pai Celestial, o Criador de todas as coisas. Será que você associa o Senhor ao seu pai biológico ou de criação?
O que Freud não explica, o Pr. Roberto Santos – nosso psicanalista de plantão – esclarece! Fizemos alguns questionamentos a ele nesse sentido, a fim de aprofundar o tema e sanar essas dúvidas. Confira a entrevista:
Oitava Revista: A ausência do pai terreno (biológico ou de criação) pode afetar a relação de uma pessoa com Deus?
Inevitavelmente, a ausência paterna causa grandes impactos na alma de qualquer criança e, consequentemente, de um jovem e até mesmo de um adulto. Isso, sim, em alguns casos pode afetar a relação que essa pessoa tem com Deus. Em alguns aspectos, isso pode afetar. Mas o que a Bíblia ensina e o que nós temos aprendido é que mesmo sujeito a esses impactos e sujeitos também a essa interferência na relação com Deus, é necessário que as pessoas que trazem consigo essa marca da ausência paterna, ou as marcas de uma presença paterna opressora, resolvam isso liberando o perdão.
Ao liberarem perdão, isso não só facilita a relação dela consigo mesma, mas também com o Pai Celeste, e consequentemente ela vai experimentar uma cura emocional e a sua vida pode fluir mais e mais na sua caminhada cristã, e ela pode desenvolver-se espiritualmente cada vez mais. A figura paterna, sim, tem esse lugar de grande importância na vida de qualquer pessoa, e quando ela é falha, quando ela é agressiva, quando ela é opressora, isso vai machucar essa criança. E quando se fala de pai, pode sim interferir. Mas graças a Deus que temos um Pai Celeste, que é o nosso amado Deus, Criador de todas as coisas; temos um irmão mais velho, que é o nosso querido Senhor Jesus Cristo; e temos o Consolador que habita em nós. E isso tudo facilita nossa caminhada de novo, tanto com esse pai que nos machucou e se ausentou quanto com nosso Pai que nos amou e se entregou por nós.
OR: Quando se trata de um pai abusivo, a pessoa tende a enxergar Deus como um Pai punitivo?
Necessariamente a gente não vai enxergar Deus com todas aquelas características negativas ou ausência de características positivas, mas em alguns aspectos isso pode interferir, no que tange ao cuidado de Deus, ao perdão de Deus, à aprovação de Deus, ao aconselhamento de Deus.
Necessariamente não vai se ver Deus como sendo abusivo, essa pessoa não ouve e não lê Deus dessa maneira; ela vai ver Deus e ouvir Deus por meio de pregações ou literaturas. Quando se fala que esse Deus a ama, a aprova, a compreende e a acolhe incondicionalmente, esse Deus que vai derramar Sua bênção sobre ela. Quando ela não tem esses registros, isso pode afetar. Entretanto, não precisa ser assim, graças a Deus.
OR: Como ressignificar tudo isso?
Graças a Deus pelo próprio Espírito, pela própria presença do Pai e de Jesus em nós, esses traumas e recalques podem ser resolvidos e ressignificados. É claro que as pessoas que trazem consigo essas marcas negativas referentes ao pai terreno, elas precisam, sim, liberar perdão para esses pais e, ao fazer isso, elas estarão resolvendo a demanda consigo mesmas em relação a esse pai terreno que é ausente ou que tenha falecido, e a sua relação com Deus tende a fluir mais naturalmente.
Mas isso não é a norma, no sentido de: ‘uma vez que eu não tive pai, que meu pai foi violento, agressivo, [assim] eu vou olhar para Deus’. Não! Nós vemos na história que muitas pessoas, mesmo com esse pai ausente e/ou violento, conseguiram relacionar-se muito bem com Deus, porque Deus é Deus dos órfãos e das viúvas. Mas algumas pessoas acabam sendo machucadas de tal maneira que são impedidas [de ressignificar o passado].
Porém, quando nós perdoamos nossos pais terrenos por aquilo que eles nos fizeram, nossa relação com as pessoas melhora, nosso olhar para nós mesmos melhora, e se aquela pessoa foi afetada espiritualmente por causa desse pai, seja pela ausência ou pela violência, liberando perdão essa relação vai melhorar também.
A Bíblia diz que precisamos perdoar para sermos perdoados. O caminho é o perdão. Quando eu não perdoo, eu fico preso a essa pessoa que causou tanto dano a mim, a um fato histórico, vou ser sempre remetido a uma data, a possíveis doenças psicossomáticas, ou talvez a uma dificuldade de me relacionar com outras pessoas, e isso pode também interferir a relação com Deus.