Celebrando o perdão
Entre perdoados e perdoadores. Perdoar e ser perdoado. No ciclo das relações, para que elas não se travem no desenrolar da vida, precisaremos ceder, dar, doar, perdoar. Afinal, até quando é o limite do perdão? E o que será mais fácil, perdoar ou ser perdoado? Ser perdoado é ter dívida paga. Ter acesso ao outro. Ter a dívida quitada. Perdoar é dar tudo isso. Dar acesso, abandonar a dívida com dano próprio.
Quando calculo as questões do perdão, de fato não sei o que prefiro: ser perdoado ou perdoar? Vamos pensar: Ser perdoado quando o erro foi meu é um ato de humilhação, de arrependimento, de vergonha ao assumir a culpa e ficar sob o juízo daquele que foi ferido. Perdoar é um movimento de amor. É dar a liberação daquele que lhe deve. É permitir que a caminhada com aquele que lhe feriu seja refeita.
Ao buscar na humanidade sobre o tema e tentar aprender a perdoar, coisa que nos é difícil, aprendemos com Jesus. Estamos diante de um infinito grau de amor e perdão. A ofensa a Deus é grande demais. Nós, criaturas, ofendemos o Criador, que é Deus. E na busca do perdão, foi ele mesmo, em amor, que nos perdoou por intermédio daquele que poderia pagar a dívida infinita.
Este é o tamanho do perdão de Deus a você e a mim: infinito. O tamanho da ofensa? Do tamanho do ofendido. O tamanho do ofensor? Infinitamente menor. Por meio de um só veio o pecado ao mundo, e com o pecado, a morte. Porém, com o perdão de um só, veio a vida.
Jesus nos ensina a perdoar em seus moldes. 490 vezes não é um número fechado, é um superlativo. É muito perdão. Deve ter gente que ofende 490 vezes. Um casamento de 50 anos deve passar disso.
O superlativo dado por Jesus no texto de Mateus 18.21-35 refere-se a Lameque: “Sete vezes se tomará vingança de Caim, de Lameque, porém, setenta vezes sete”. Lameque é homem de sangue. Não perdoa, fere e vinga. Lameque fica preso a todo o que lhe agride. Não caminha, apenas perambula entre os homens.
Em parábola, Jesus continua a ensinar. Mostra a realidade de muitos perdoados. Na história, um Rei perdoa dívidas e um homem que foi perdoado não segue o exemplo ao liberar o que lhe deve. O cálculo é absurdo. Um talento equivale, no tempo do Novo Testamento, a 1.600 dólares. Hoje a dívida perdoada é de aproximadamente R$ 60.800.000. Sessenta milhões e 800 mil reais de perdão a alguém que não teve a capacidade de perdoar 100 dias de trabalho, algo próximo a R$3.327.
É absurdo. É a distância entre o perdão de Deus a nós e o que muitos de nós não temos feito.
É uma denúncia e um chamado. Somos chamados a analisar o quanto fomos perdoados. Repito. O texto apenas demonstra em quantidade provável para nossos cálculos e tenta precificar o imensurável. Fomos perdoados da morte, do juízo eterno. Sendo assim, qual o tamanho do perdão que devemos dar?
Qual esforço precisamos ter em nossos relacionamentos para refletir o perdão de Deus dado a nós? C.S Lewis disse em diversos textos que um ser humano não escolheria o cristianismo por si só a menos que fosse convencido pelo Espírito Santo.
Seguir a Jesus tem prerrogativas profundas. O perdão é uma delas. Perdoar a quem nos ofende é um exercício profundo de espiritualidade. Somos agredidos, caluniados, passados para trás, roubados, mas, mesmo assim, chamados a perdoar. É um outro nível espiritual ao qual fomos chamados.
Possivelmente, ao ler o texto, veio um filme à sua mente. Aquilo que lhe fizeram ou algo que você está vivendo hoje! Um conselho? Perdoe. No fundo da alma. Não perdoar é carregar lembranças e pessoas como pesos. Pesos sobrecarregam e nos enfraquecem.
Como perdoar? Lembrar-se que foi perdoado. Que nada mais pode lhe tirar a cidadania celestial. Lembre-se de que Deus nos olha, nos vê como filhos amados e que nada nos tira desta herança. Assim, qualquer agressão e ofensa não pode mais nos mudar nem nos ferir, muito menos nos condenar.
Portanto, perdoe. Você foi perdoado, você foi perdoada.
Pr. Bruno Barroso · Pastor Auxiliar