RUTE, A MOABITA – O TEU DEUS É O MEU DEUS
“(…) Que seja ricamente recompensada pelo Senhor, o Deus de Israel, sob cujas asas você veio buscar refúgio.” (Rute 2.12 – NVI)
Tenho imenso prazer quando leio Max Lucado. A metonímia não é exagerada. O pastor e escritor americano, que já viveu como missionário no Brasil, tem um jeito muito especial e atrativo de escrever. Por isso, a menção. Ao iniciar este texto, lembrei-me de Lucado e tentarei, pelo menos inicialmente, copiar o seu estilo, ainda que um pouco.
Imagine os seguintes ingredientes: violência, apostasia, degradação moral e espiritual, opressão estrangeira, fragmentação nacional e fome. É nesse cenário que o livro de Rute tem início. Um período em que a nação de Israel não tem líder que os governe (leia Juízes 21.25) e o distanciamento de Deus afunda homens e mulheres em terrível crise no que concerne relacionar-se em obediência ao seu Senhor.
A situação piora quando a terra chamada “Casa do Pão” (Belém) passa por uma escassez muito severa de alimento e força um homem, cujo nome significa “Meu Deus é Rei” (Elimeleque), imigrar com sua família (esposa e filhos) para um lugar distante, mais ou menos 80 quilômetros. Não é somente um lugar de estrangeiro. É a nação de um dos inimigos do povo de Israel. As terras de Moabe (leia Rute 1.1 a 5).
Moabe (atualmente a região da Jordânia) é uma nação pagã, cujo povo se origina do incesto entre Ló e a sua filha mais velha (leia Gênesis 19.36-38). Tornaram-se inimigos de Israel. O ranço era histórico, por questões ligadas à geopolítica na ocupação da terra de Canaã. Mas, anteriormente a isso, o pronunciamento divino excluía os moabitas da assembleia, porque esse povo não acudiu a Israel com pão e água na saída do Egito; porque alugaram contra o povo de Deus o profeta Balaão para amaldiçoá-los (leia Deuteronômio 23.3-4). Os moabitas sacrificavam seus filhos ao deus Quemos, cujo nome significa “Subjugador”. Um deus com corpo de homem e cabeça de touro (leia 2 Reis 3.26-27). Eis o cenário!
A esposa de Elimeleque, Noemi, tem dois filhos e ambos se casam com mulheres moabitas. Uma se chama Orfa, e a outra, Rute (algo parecido com amizade). O marido e os filhos de Noemi morrem, e agora tem-se o relato entorno de três viúvas, sendo duas delas jovens e sem filhos. Noemi, cujo nome significa “agradável”, “delicada”, “doce”, manifesta seu pesar e diz que seu nome agora deverá ser Mara (amarga – leia Rute 1.20). Parece mesmo que tudo fugiu ao controle e o ambiente de desesperança, trevas e dor profunda sempre ronda a existência humana. Será mesmo?
O texto bíblico relata que “Noemi soube em Moabe que o Senhor viera em auxílio do Seu povo, dando-lhe alimento…” (lei Rute 1.6) e decide voltar para a terra de Israel. Tenta despedir suas noras, para que fiquem em Moabe, mas Rute, ao contrário de Orfa, não deixa Noemi e insiste: “(…) O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus!…” (leia Rute 1.16). Essa é uma decisão que faz toda a diferença na história de Rute. Então, caro leitor, esse é o ponto importante. A decisão que muda a sorte.
No livro de Rute, temos um Deus ativo, que não perdeu o curso da história. Sua providência alcançará o Seu povo. Seus santos, eleitos e amados (leia Êxodo 19.5-6), cuidando de dar-lhes provisão, alívio e esperança. Seguem-se, então, alguns pontos:
1) Deus governa a história, o tempo, as nações, o mundo! Nada é tão duradouro quanto a misericórdia do Eterno. Quando tudo parece perdido, uma notícia surge: “Deus veio em auxílio do seu povo” (leia Rute 1.6; 2.20;4.14). As adversidades e a maldade humana não suplantam a bondade e a soberania do Senhor. Noemi vive um tempo de decadência moral entre o seu povo. Vai para uma jornada em terra pagã e volta sem filhos e marido, mas com uma companheira (leia Rute 2.11). A partir do seu retorno, as coisas mudam, porque Deus tem um plano.
2) Nada acontece por mera coincidência. “Então ela foi e começou a recolher espigas atrás dos ceifeiros. Casualmente entrou justo na parte da plantação que pertencia a Boaz…” (Rute 2.3). Rute poderia ter ido colher espigas em qualquer outro lugar, mas não sem uma razão divina; ela vai ao campo daquele que a resgataria, bem como à sua sogra Noemi. O resgate era uma prática para manter a terra (possessões) numa mesma família/tribo (leia Levíticos 25.23-25). Boaz é o homem que fará isso.
3) Toda fidelidade é recompensada. A fidelidade de Rute para com a sua sogra Noemi não é esquecida. Uma boa decisão de seguir ao lado da viúva mais velha levará Rute para um lugar de destaque. E que lugar! Ao observarmos o final do livro, percebemos que a geração futura será “afamada em Israel” (leia Rute 4.14). A força de vontade e determinação de Rute, seu amor inteligente e baseado em boa escolha coopera para isso. Um Deus fiel recompensa os que agem com fidelidade.
4) Escolhas nos levam para perto ou longe das grandes oportunidades. Ao se despedir de sua sogra Noemi, Orfa fez uma escolha que a retirou do contexto histórico que viria. Não se sabe o que mais se sucedeu a ela. A nação de Moabe viria, mais tarde, ser objeto das profecias de juízo (leia Isaías 15). Rute, por sua vez, decidiu seguir e apegar-se ao Deus de Noemi (leia Rute 1.16-17). Da mesma maneira, aquele que poderia ser o resgatador antes de Boaz, abriu mão da sua “preferência” e acabou não passando à história (leia Rute 4.5 e 6).
5) Uma história de benevolência. Rute demonstra bondade para com a sua sogra Noemi. Boaz demonstra bondade para com Rute. No centro de toda essa história, o que se sobressai é a bondade de Deus para conosco ao nos dar o Salvador, o qual virá a Seu tempo, nascido de mulher. Ele mesmo nos resgata fazendo-nos filhos e herdeiros (leia Gálatas 4.4-7). Não se pode deixar passar despercebida a ação direta do Salvador no livro de Rute, quando tão evidentes estão Sua providência ao suprir necessidades (Rute 1.6), amar fielmente os Seus e dar-nos graciosamente o Salvador, incorporando-nos à família da fé.
Deus tem em si a forma esplêndida para preencher vazios. Quando tudo parece sem saída e amargo, a ponta de uma nova fase da história surge. Milagrosamente, soberanamente, exponencialmente, redentoramente. É isso! Redenção é o desenho que ilustra a ação divina neste livro de Rute.
– Edson Gonçalves – Pastor Auxiliar