PÁSCOA – O CORDEIRO, O LEÃO E O COELHO (?)
“Guardem o mês de abibe e celebrem a Páscoa do Senhor, seu Deus, porque, no mês de abibe, o Senhor, seu Deus, os tirou do Egito, de noite.” – Deuteronômio 16.1
O momento crucial na história da nação de Israel, descrito no Antigo Testamento, é a saída da terra do Egito. Simultaneamente, o povo se vê livre de um período de escravidão que durou 430 anos. Previamente, Deus manda um libertador. Moisés é aquele que tenta convencer o rei Faraó da necessidade de deixar livre um povo que Deus quer livre. Faraó não cede, e Deus mostra o Seu poder enviando pragas sobre a nação egípcia.
O descrito acima é uma breve síntese do que precedeu o ápice da ação divina na libertação do Seu povo. Quando estava para “derramar” a décima praga, Deus chama Moisés e lhe diz: “Este mês será para vocês o principal dos meses; será o primeiro mês do ano” (Êxodo 12.2). Deus estabelece um novo tempo; uma nova contagem; um novo calendário. O que Ele está para fazer marcará gerações futuras. Nunca se apagará da memória do povo de Deus (Ex 12.14). A ordem é clara: “tomem para si um cordeiro” (Ex 12.3). Mas, o que esse cordeiro significaria?
A décima praga resultaria em muita dor e pranto para o povo egípcio. Deus traria terrível juízo sobre a “dura cerviz” (teimosia, insubmissão) de Faraó. O primeiro filho de homens e animais seriam mortos. Porém, a distinção entre os que sofreriam o justo juízo seria o fato de terem uma marca: a marca do sangue do cordeiro. O animal seria imolado (morto); assado e comido por família ou famílias. Nada dele deveria se perder. Ao findar da tarde, começando a escurecer e morto o cordeiro, seu sangue deveria marcar a entrada das portas das casas. Esse é o sinal de que aquele lar e família obedeceram à ordem do Senhor. Seriam preservados (Ex 12.7; 13). O cordeiro é o sinal da graça de Deus. Ele se torna a viva lembrança de que uma vida fora dada em sacrifício no lugar de outras.
A Páscoa se torna, então, a festa instituída pelo próprio Deus para marcar
o momento único de libertação e preservação da vida daqueles que Deus chama de “Seu povo”. Moisés reafirma: “marquem as portas de suas casas. Hoje, o Senhor ‘passará por cima’ da casa de vocês e os livrará da morte” (Ex 12.23; 27). Celebrem prontos para sair da escravidão e da morte, para a liberdade e para a vida. Estejam em condições para sair assim que for o momento (Ex 12.11). Estar pronto e marcado é uma condição, hein! Entenda.
Uma vez em liberdade, a caminho da terra prometida, o povo liderado por Moisés é instruído como servir ao Deus que os libertou. A forma de culto, os lugares sagrados, os líderes que conduziriam o povo ao serviço do culto, tudo foi detalhadamente especificado pelo próprio Deus. E lá estavam eles. A Páscoa, como memorial de libertação; e o cordeiro, como símbolo do sacrifício que salvou da morte aqueles que tinham o sinal de seu sangue (Levítico 23.5). O cordeiro também passa a ser o símbolo do sacrifício pelo pecado. Um holofote que projeta uma forte luz para o futuro salvífico que virá. O cordeiro que toma sobre si o peso da culpa de muitos (Isaías 53.7). Milhares de anos mais tarde, João Batista, um pregador às margens do rio Jordão, avistou Jesus vindo e afirmou: “…eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1.29).
Depois dessa apresentação indubitável de João Batista, Jesus Cristo é o
personagem central da história de salvação. Ele é a promessa de redenção. Salvará o Seu povo dos pecados deles (Mateus 1.21). De fato, o cordeiro prefigurado naquela noite lá no Egito, quando “ser livre da morte” significou ter o seu sinal como marca, traz a garantia de que Deus, sempre presente na história, há muito nos preparara a salvação.
E o leão? Como ele aparece nessa história? Trata-se de uma figura
revestida de autoridade e poder. O leão domina por sua imponência e força. Traz na sua imagem a figura real. Em Gênesis 49, versículo 9, ao impetrar a bênção sobre os seus filhos, o patriarca Jacó diz: “Judá é leãozinho” e prossegue: “o cetro, não se arredará de Judá…”. Em outra passagem, a linhagem real repousa sobre Judá, indicando que dessa tribo virá alguém de grande poder (Números 24.17). Sobre o rei Davi, da linhagem de Judá, vem a promessa de reino sem fim (2 Samuel 7.13; 16; 26). Jesus é chamado “Filho de Davi” (Lucas 18.38; 39). O título messiânico (Salmo 89.19-37). Juntando as partes, Cristo é esse Leão da Tribo de Judá (Apocalipse 5.5). Ele venceu e se acha digno de fazer o que nenhum outro ser poderá fazer (Ap 5.4). As imagens se misturam. As figuras metafóricas se misturam. Porém, retratam a mesma pessoa. O Cordeiro que foi morto, mas que agora está de pé (Ap 5.6), é o mesmo leão, que recebe dignamente: poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor (Ap 5.11). Há fusão. O Cordeiro é o Leão. Aleluia!
Resta o coelho. Pois é! Nesta festa da redenção, o coelho não é citado nas Escrituras Sagradas, embora insistam em dar-lhe proeminência. Não fosse suficiente desatino a forçosa participação na história redentora, diz-se que o meigo animal “bota ovos”. E de chocolate. É muito envolver o doce animalzinho nessa pecha, mas povos pagãos cuidaram de fazer isso. As estórias variam, mas o relato mais aceito aponta para o festival germânico de Eostre, que celebra a deusa Ostara.
As festividades contemplam o fim do período de inverno e o início do
renascimento, sendo a “deusa” considerada a responsável pela fertilidade. As festivas ocorriam no mês de abril, numa equivalência ao calendário judaico da Páscoa, também no período de março/abril – 14º dia – (mês de abibe). O paganismo relata que a Ostara transformou um pássaro em coelho, o qual, insatisfeito com essa condição, pediu para voltar à forma anterior. Uma vez atendido, ofertou ovos coloridos à entidade. Uma outra menção folclórica diz que, na Inglaterra medieval, as pessoas contavam que o coelho foi o primeiro animal a ver Cristo ressuscitado. Lendas. A verdade é que o coelhinho está sobrando na história.
Por fim, o cristão cônscio se instrui e instrui seus filhos, parentes, amigos,
vizinhos, que a história da Páscoa é relato eterno de redenção, salvação e eternidade. Que Cristo morreu, como o cordeiro que Deus ofertou para marcar com o seu sangue aqueles que serão poupados da praga mortal. Que, embora tenha sido morto como um manso cordeiro, ressuscitou e está vivo para sempre. Voltará com rugido de leão e estabelecerá eternamente o Reino de Deus. A Ele, glória!
– Pr. Edson Gonçalves – Pastor Auxiliar