Recupere plenamente o filho que está de volta
Viver em família não é algo simples. Relacionamentos são naturalmente complexos e, seja uma família composta por um casal, seja acrescida de uma mão cheia de filhos, conflitos sempre vão acontecer. Não raro, relacionamentos são quebrados e precisam ser restaurados. De modo geral, os sentimentos de família voltam a tomar conta e o ressentimento dá lugar ao afeto novamente, como nunca antes.
Na família de Deus não há motivo para ser diferente, e a Parábola do Filho Pródigo nos ensina isso (veja Lucas 15:11-32). Quando o pai corre ao encontro do filho que voltava cabisbaixo para casa, qualquer um que estivesse escutando a história logo pensaria: “esse pai vai lhe aplicar um castigo severo e mostrar quais as consequências de tamanha falta de respeito”. Mas, para a surpresa de todos, o pai da história corre e abraça o filho, dando ordens claras e específicas para seus servos:
1. “Trazei depressa”: há um sentido de urgência na ordem do pai. A decisão do filho de voltar para casa é recente e talvez insegura. A aldeia provavelmente alimentara um sentimento de indignação para com aquele filho ingrato. É preciso agir rápido para que a volta do filho seja consolidada. Da mesma forma, quando alguém que abandonou a comunidade da fé reaparece, não podemos achar que esse retorno é seguro e definitivo. Precisamos agir rápido como igreja para assegurar a esse filho que ele está em casa e que hostilidade alguma o atingirá, pois estamos perto para lhe demonstrar o verdadeiro amor de Cristo.
2. “Vesti-o com a melhor roupa”: por fora, ele mais parece um mendigo, mas, para seu pai, é o filho mais que amado. O exterior deve refletir sua condição interior. Ele será tratado com honra, e, para isso, recebe a melhor roupa da família. Estar na casa do pai com roupas de mendigo é impensável, mas o filho arrependido não tem mais suas roupas, e o pai providencia de sua casa. A honra não é própria, mas concedida pela família. De igual modo, quando recebemos em nosso meio um pecador que se arrepende, ele vem ainda coberto pela roupagem do pecado, ferido, sujo, cheirando a uma vida sem Deus, mas ele não passa a se parecer da família só depois que a limpeza interna se exterioriza. Ele já é da família e, como filho, deve ser honrado, ainda que para isso devamos lhe dar de nossas melhores vestes. Jesus, ao comer com publicanos e prostitutas, lhes conferiu honra e os trouxe para dentro do Reino.
3. “Ponham nele o anel no dedo”: a autoridade familiar desse filho pródigo foi jogada na lata de lixo quando ele deixou sua casa e foi viver “na gandaia”. Ele não poderia mais falar com um filho de sua casa, não era mais respeitado entre os seus. Sua opção pelo pecado e a declaração de morte do pai o destituiu de qualquer autoridade. Até ele voltar para casa. Ele não precisou passar por um purgatório caseiro para se fazer filho de novo. O pai imediatamente manda que lhe coloquem o anel no dedo, o anel da família, indicando que ele fala em nome do pai e, por isso, deve ser respeitado. Nenhum servo ou visitante pode questionar seu comando. Ele é filho! E da mesma forma chegam os antes afastados na Igreja. Não podem ser vistos como pseudofilhos, que dependem dos demais para se achegar ao Pai ou resistir ao inimigo. A autoridade de filhos é imediatamente restaurada. O Espírito Santo lhes fala ao coração, iluminando as Escrituras, guiando os passos. Precisam de ajuda para reaprender passos da caminhada da fé, mas já são usados por Deus no exercício de seus dons espirituais.
4. “E ponham sandálias nós pés”: andar de pés descalços é coisa do escravo da casa, não do filho. Por onde quer que passa, as regiões celestiais reconhecem: ali vai um filho de Deus. Como a veste e o anel, as sandálias não são próprias, mas da família, do pai. O escravo olha para baixo, desviando o olhar, não é humilde, mas humilhado, pois não é livre. O filho anda de cabeça erguida, olhando nos olhos, pois nada deve. Ele pisa firme e se movimenta sem medo, pois tem as sandálias nos pés. De igual modo, aquele que retorna, ainda que inicialmente quebrantado pela vida de pecado, não precisa andar cabisbaixo, como que em débito, mas de cabeça erguida. Sua vida de pecado foi lavada pelo sangue de Jesus e, se Deus é por ele, quem será contra ele?
5. “E começaram a regozijar-se”: por fim, unir-se a Deus no acolhimento do perdido é participar da festa divina. O coração de Deus não apenas se alegra com a volta do filho, mas se regozija, se enche de gozo. A figura da festa é rica: o novilho cevado é morto, o banquete é preparado, o ambiente é cheio de música e dança. A festa não é de ninguém menos que do pai. Participar dela é um privilégio sem par.
A restauração do filho da parábola foi plena, assim como deve ser de nossa parte plena a restauração dos filhos que se chegam ou retornam à casa. A família de Deus é uma casa de portas abertas, acolhedora como o coração do Pai. Somos, assim, convidados a viver como Igreja.
Pr. Luís Fernando Nacif Rocha | prluis@oitavaigreja.com.br