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Páscoa

Páscoa. Muito se fala dela. E tudo depende da perspectiva. Da criança (e do adulto, também), que espera por doses de chocolate maiores que o normal, a sermões falando sobre a morte e ressurreição de Jesus. Duas situações, aliás, bem contraditórias. Enquanto em uma nos deliciamos com o doce mais popular do mundo, na outra lembramos a morte mais popular do mundo.

Entretanto, a Páscoa como refeição e celebração é bem anterior à morte de Jesus. Ela já era celebrada há cerca de 1.400 anos, tempo suficiente para estar bem sedimentada na mente e coração dos judeus do 1º século. Cada elemento tinha um forte simbolismo ligado a um dos principais eventos da história de Israel: a saída do Egito, sob a liderança de Moisés (Êxodo 12).

Dentre os elementos da Páscoa, vemos:

∙ Pães asmos (sem fermento) | lembravam a pressa na saída do Egito, pois não dava para esperar a sua levedura no preparo. Essa pressa era também representada no fato de as pessoas tomarem a refeição como se estivessem vestidas para uma longa viagem.

∙ Fruto da videira | uma forma hebraica de se referir às taças de vinho servidas na refeição. Eram cinco, e cada uma com um significado próprio.

∙ Ervas amargas | lembravam o sofrimento do povo enquanto escravo no Egito. Também acompanhado do haroset, um molho feito de frutas secas, espesso e de cor avermelhada, que lembrava os tijolos que os hebreus eram obrigados a fazer naquela terra.

∙ Cordeiro pascal | de um ano, sem defeito, deveria ser morto ao final da tarde, tendo seu sangue colocado nos umbrais da porta, instrução dada pelo Senhor para que Seu povo não sofresse com a décima praga. A partir do período do reinado, o cordeiro era morto no pátio do Templo, sempre com o cuidado de não se quebrar nenhum de seus ossos.

A Páscoa preparada pelos discípulos nos momentos finais antes da crucificação (Lucas 22.7), certamente, tinha esses elementos que, a princípio, apontavam para o Êxodo do Egito, mas, de uma forma surpreendente, os fatos tomaram um rumo inesperado. Com a mesa posta, disse Jesus:

“Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento. Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus” (Lucas 22.15-16).

Com uma simples frase, Jesus lança uma luz completamente nova sobre o significado daquele momento. Enquanto os judeus há 1.400 anos celebravam a ceia olhando para um evento no passado, Jesus aponta para o futuro, mostrando seu real significado.

Não é coincidência que as muitas características da Páscoa tenham ligação com Jesus Cristo, em especial sua morte na cruz. Ele atribuiu diretamente o pão e o vinho ao Seu corpo e Seu sangue, oferecidos em nosso favor. O cordeiro pascal, símbolo maior da substituição pelo pecado para que os israelitas fossem poupados da morte, teve sua identificação na conhecida frase de João Batista, ao ver Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!” (João 1.29).

O profeta Isaías também nos ajuda a entender essa correlação ao proclamar o Servo Sofredor, em Is 52-53. É ele quem afirma acerca dessa figura até então enigmática:

“Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados… Quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos… justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si” (Is 53.5,10-11).

A morte de Jesus traz nova luz sobre a Páscoa, pois enquanto no Êxodo o povo era liberto de um cativeiro físico e temporário, em Cristo somos libertos do cativeiro do pecado e da morte eterna. Da mesma forma, a Páscoa, agora celebrada na Ceia do Senhor, nos lembra que ainda estamos em um estágio intermediário na implantação do Reino de Deus. Jesus voltará para estabelecer o Reino em sua forma completa, e a celebração da Ceia nos aponta o olhar para esse dia, sempre na lembrança de que não somos passivos, mas ativos nessa implantação, pois é através da Igreja do Senhor, Seu Corpo, que a mensagem do Evangelho é proclamada até os confins da terra.

Pr. Luís Fernando Nacif Rocha

Pastor Auxiliar