O preconceito impede muitos homens de fazerem o exame de toque retal. A afirmação é do médico urologista Paulo Marcelo dos Santos, que estima que 10% dos homens - que vão ao urologista - recusam submeter-se ao exame que, comprovadamente, reduz a mortalidade em relação ao câncer de próstata. A constatação ganha maior notoriedade no mês de novembro, graças à campanha Novembro Azul, cujo objetivo é conscientizar e incentivar a prevenção da doença (no Brasil, o câncer de próstata é o 2º mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele*).
A estimativa do Dr. Paulo Marcelo é ainda mais preocupante se lembrarmos que boa parte da população masculina sequer vai ao urologista para fins de prevenção e autocuidado. O médico revela ser bastante comum homens se consultarem somente quando já estão sentindo algum tipo de incômodo. Eles não vão de forma preventiva e isso acaba atrapalhando o resultado do tratamento e o prognóstico da doença, tanto do câncer quanto da hiperplasia benigna, conta. Então, qual seria a solução?
Para pôr fim ao preconceito, segundo ele, é preciso campanhas educativas do Ministério da Saúde, da Sociedade Brasileira de Urologia, da associação médica e da sociedade como um todo, para que eles [homens] entendam que um exame profilático (preventivo) pode reduzir a mortalidade em relação ao câncer de próstata. Já o psicólogo Lucas Loureiro compreende que a recusa ao exame vai muito além do preconceito. A resistência a qualquer tipo de tratamento médico, e não só ao exame de próstata, é até natural, diz.
Loureiro acredita que, quando temos que nos submeter à análise, ao olhar quando a gente é invadido pelo outro, mesmo que esse outro tenha a intenção de curar, de tratar, de fazer o bem, a gente resiste. Seja por preconceito ou por mera resistência, fato é que muitos homens deixam de fazer o exame de toque retal. Essa evasão faz com que, em 95% dos casos, o diagnóstico se dê já no estágio avançado da doença, contribuindo para que o câncer de próstata seja o tipo de tumor mais comum em homens com mais de 50 anos de idade**.
Um tabu a ser quebrado
De acordo com o psicanalista Gean Brandão, nossa cultura machista entende que tal prática [o exame de toque retal] seria como uma violação, fazendo com que eles [os homens] se sintam menos homens. Ele acredita que, de certa forma, o procedimento acaba mexendo com os tabus do indivíduo, afetando seu psicológico. A ignorância sobre o tema é muito grande, e este é o desafio de nossa sociedade, a saber, conscientizar da importância do exame, pontua.
Brandão aponta a possível solução para o problema: a conscientização. Segundo ele, esse é o único caminho para reverter este preconceito. Compreendo que nós, prossegue, somos desafiados a levar este esclarecimento à comunidade, pois, fazendo isto, estamos cuidando da saúde de nossos amados irmãos e de suas famílias. Não podemos ser um local que reforça os preconceitos, mas sim o lugar de lançar luz na escuridão, não só da cegueira espiritual, mas também da ignorância que pode custar a vida de nossos irmãos.
*Fonte: Instituto Nacional de Câncer (INCA)
**Disponível em: https://ladoaladopelavida.org.br/disease/cancer-de-prostata. Acesso em 04/11/2021, às 11h52.