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Mãe do coração

De acordo com o Cadastro Nacional de Adoção, do Conselho Nacional de Justiça, atualmente, há 8.665 crianças aptas à adoção e 43.724 pretendentes. Apesar disso, o número de crianças em abrigos ultrapassa a marca das famílias na fila da adoção.

“Mãe é mãe, né?”. Você já deve ter ouvido essa frase. A expressão de valorização desse “cargo” é comum e usada para diferenciar as ações das mulheres que fazem de tudo por seus filhos. E não é necessário ter o mesmo sangue correndo nas veias. Para ter essa relação, basta ter sido contemplada por Deus com filhos, biológicos, adotivos ou de consideração.

Cíntia Couto, membro da Oitava há 15 anos, e que agora está de partida para Portugal, é mãe da Helena, de cinco anos. Ela e o marido optaram pela adoção antes mesmo de saberem que haveria dificuldade para uma gestação natural. Reuniram documentos, foram entrevistados e passaram por meses de preparação até serem aprovados e entrarem na fila da adoção. A partir daí, Deus cuidou até mesmo de um detalhe especial: foram nove meses esperando pela tão sonhada filha.

Em uma ligação, num dia comum de trabalho, Cíntia foi convidada a conhecer o caso de uma criança que estava em um abrigo. Na mesma ocasião, o casal pôde se encontrar com o bebê que, já naquele instante, havia se tornado filha: “Quando pegamos ela no colo pela primeira vez, foi emocionante. Estranho, mas ali naquele momento sabíamos que ela era nossa, fazia parte da gente”, declara.

O processo como um todo durou cerca de um ano, mas na mesma semana da visita, Helena, com dois meses de vida, já estava em casa com a família. Um sonho para os papais e para as duas famílias envolvidas: “Naquele momento, a notícia já tinha corrido e as nossas famílias estavam emocionadas, pois tinha nascido a nossa Helena”, conta.

Ela trata com total naturalidade a questão e também passa isso para a filha que, de acordo com sua idade, vai sendo ensinada sobre sua história: “A criança é muito curiosa e faz perguntas. À medida que ela nos pergunta, vamos respondendo sempre com a verdade e da forma como ela tem maturidade para ouvir e entender”, explica Cíntia, que conta também de um livro sobre adoção que Helena ganhou e que teve a leitura interrompida, pois ela também queria dar seu relato: “Mamãe, eu nasci na barriga de outra pessoa, que me guardou para você e para o papai, O Deus disse assim ‘Essa criança vai ser da Cíntia e do Caetano’.”

Esse amor materno que não precisa estar ligado a uma barriga, a ultrassons, a testes de gravidez, ultrapassa as nomenclaturas, os documentos e todas as coisas oficiais. Ele parece estar intrínseco nas mulheres, que, desde a infância, ninam bonecas, brincam de família e são, durante toda a vida, treinadas para tornar essa brincadeira real. Mesmo agora, quando se tenta desconstruir a imagem da mulher conforme a Bíblia, isso continua forte, pois é a verdade de Deus para o mundo.

E não precisa nem chamar de mãe. Quando há esse sentimento de amor, doação, ensino…. torna-se mãe. É o caso de Helena Vieira, membro da Oitava há 17 anos, e que há 10, recebeu em sua casa a Stefanny Pires, 21. Com uma história comovente de maus-tratos na primeira infância, adoção e um novo distanciamento da família, hoje a jovem tem seu lar e uma “madrinha” para cuidá-la.

Stefanny tem dificuldades motoras e na fala em função da violência que sofreu na família biológica. Helena a conheceu em um abrigo – cujos donos a adotaram, quando servia como voluntária. Durante a infância, a jovem conviveu com a família de Helena em temporadas na sua casa e viagens. O laço afetivo foi tão forte que, quando devido à problemas judiciais, Stefanny seria transferida de abrigo, ela decidiu acolhê-la em casa.

“Eu não pensei duas vezes. Conheço a história dela, sei de todo sofrimento que ela passou e quando eu cheguei em casa e falei com os meus filhos, todos concordaram: ela vai ficar aqui conosco pelo tempo que precisar, para a vida inteira. Na audiência, o juiz disse que eu não tinha essa obrigação, mas não foi por obrigação, foi por afeto, para não permitir mais abandono na vida de uma pessoa que já tinha sido tão rejeitada”, relembra.

Helena, que já tinha três filhos, teve uma ordem judicial para cuidar de Stefanny. Ela não é a mãe biológica, nem a adotiva, que perdeu contato com a família após a mudança. É madrinha, mãe de coração, que investiu no crescimento físico, emocional e espiritual da filha, e que agora batalha para realizar o sonho “dourado” dela: cantar. E para isso leva para a fonoaudióloga, terapêuta ocupacional, incentiva e acredita no sonho. “Às vezes as pessoas falam assim: ‘nossa, mas que bom que você está ajudando a Stéfanny’, mas a gente não sabe quem ajuda quem, porque ela é um exemplo de superação o tempo inteiro”, enfatiza Helena.

A madrinha assegura que hoje não faz mais julgamentos às famílias biológica e adotiva de Stefanny, e diante de tanta história de abandono que conheceu, faz um apelo: “Eu acho que as pessoas que acharem que tem condição, não só financeira, mas emocional, que pensassem na possibilidade de buscar onde estão essas crianças em situação de sofrimento e trazê-las para seu convívio. Não só como pais e mães, mas até numa situação assim, de ter esse contato”, finaliza.

As informações legais sobre a adoção no Brasil podem ser acessadas no site do Conselho Nacional de Justiça: www.cnj.jus.br/sistemas/infancia-ejuventude/20530-cadastro-nacional-deadocao-cna. Um feliz dia das mães para as do coração: do sangue ou do amor.