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Evangelho em LIBRAS

O Ministério de Alcance aos Surdos da Oitava alcança os irmãos que participam presencialmente dos cultos e aqueles que acompanham pela internet.

Imagine viver em um mundo em silêncio. Concentre-se um pouco e experimente por alguns minutos. Tudo o que você faz hoje estaria acessível dessa forma? Ir ao teatro, assistir uma palestra, fazer uma consulta médica ou ir ao banco. Agora pense na quantidade de pessoas que vivem assim. Os surdos enfrentam obstáculos em atividades básicas por falta de acessibilidade.

No livro Ensaio sobre a Cegueira, José Saramago leva o leitor, instintivamente, a se imaginar cego. A experiência é empática. Pôr-se no lugar do outro e pensar nas dificuldades que ele enfrenta pode nos ajudar a diminuir os espaços e contribuir para uma sociedade mais inclusiva. De acordo com o Censo do IBGE de 2010, há 9,7 milhões de pessoas surdas no país. Há intérpretes o suficiente para atender a essa demanda?

Há cinco anos a Oitava trabalha para aproximar-se dos surdos, levar a Mensagem de Cristo e contribuir com a evangelização do grupo. Em 2013, nasceu o MAS, Ministério de Alcance aos Surdos. Mas na época ainda não havia nem surdos nem intérpretes na igreja: “A intenção era capacitar os alunos para serem Intérpretes de LIBRAS, não havia equipe formada, nem profissionais da área”, recorda Lilian Abreu, coordenadora do MAS e uma das intérpretes do ministério.

Em 2015, os cultos de 9h aos domingos, passaram a contar com a interpretação em LIBRAS. Os primeiros surdos a participarem foram um casal, hoje membros da Oitava. Eles convidaram outras pessoas. Hoje, no MAS, são sete intérpretes e cinco surdos frequentes nas atividades. Além disso, em alguns cultos, um dos intérpretes traduz o culto para um surdo-cego.

Os surdos fazem parte do grupo menos evangelizado do Brasil, junto com os indígenas, ribeirinhos, ciganos, sertanejos, quilombolas, imigrantes, os mais ricos dos ricos e os mais pobres dos pobres. A dificuldade de evangelização se dá, principalmente, pela falta de intérpretes, mas segundo Lilian, o grupo também tem uma grande resistência com o Evangelho, o que ela classifica como desafiador: “Atraí-los para os caminhos do Senhor é o maior desafio”, aponta.

Já no contexto da igreja, a coordenadora indica outra dificuldade para que o trabalho seja realizado da melhor forma possível: “[Precisamos] conscientizar as pessoas de que passar na frente do intérprete é como passar em frente à tela do cinema, atrapalha a transmissão da informação”, relata.

Segundo Lilian, é urgente a necessidade de acesso e integração às pessoas surdas dentro da igreja, para evangelismo, mas em outros ambientes também, que deveriam acolher, mas acabam afastando pessoas com deficiência auditiva. Por isso, outra atividade do MAS é o acompanhamento de pessoas surdas em demandas pessoais, como consultas médicas, entrevistas de trabalho ou visitas ao banco, tanto para os que frequentam a igreja quanto para aqueles que não estão vinculados à Oitava. Além disso, o Ministério realiza palestras educativas sobre os temas escolhidos pelo público e tem uma parceria com a AWISO, a Associação Beneficente Wilson de Souza, para atendimento odontológico e psicológico.

A coordenadora do ministério explica que a dificuldade de acesso e a falta de inclusão não caracteriza a comunidade surda como coitados ou dignos de pena: “Desejamos uma sociedade mais justa e acolhedora, que não deixa à margem os diferentes do que chamamos de perfeito ou normal. Somos educadores em busca de uma inclusão que possibilite ir e vir, não vendo como coitadinhos, mas pessoas que podem fazer o que quiserem e podem ter acesso às mesmas informações e possibilidades”, salienta.

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.” (Marcos 16.15)

Desde julho deste ano, o Ministério expandiu suas fronteiras, propagando para ainda mais pessoas o Evangelho de Cristo em LIBRAS. O culto de 11h do domingo, que conta com a interpretação para os surdos presenciais na igreja, passou também a ter a transmissão do intérprete. Assim, aqueles que assistem ao culto on-line no Facebook, site ou canal da Oitava no YouTube, podem acompanhar o louvor, orações e palavra de forma acessível: “Sempre que necessário nos esforçamos para que eles se sintam parte do Corpo e não fora dele”, assegura Lilian.

Ela conta uma situação lamentável que passou dentro de uma sala de aula, em uma instituição de ensino superior: “O professor olhou para mim e disse ‘não irei adaptar a aula só porque tem um surdo na sala, ele que se vire’s”. Lilian repudia o ato e reage com indignação por tamanha falta de compreensão: “Lutamos contra este tipo de pensamento e atitude egoísta e indiferente, desejamos a começar por nós, Igreja de Cristo, a realmente exercer o dom da misericórdia”, enfatiza.

E para o futuro há planos ousados e necessários: ter cultos e GCOIs apenas para surdos e missionários surdos: “Somos a semente, o começo de grandes coisas, se o Senhor permitir talvez vejamos florescer, mas o que importa é semear!”, afirma Lilian.

“E, então, se dirigiu a seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.” (Mateus 9.37-38)

Para isso, é preciso capacitar os irmãos que já estão no ministério e aumentar o número de colaboradores. Se você tem interesse em participar do MAS, ou deseja aprender LIBRAS, entre em contato com a igreja. Ocasionalmente são oferecidos cursos e você pode participar, aprender a Língua Brasileira de Sinais e abençoar os irmãos surdos da Oitava e por todos os lugares do mundo.

“Nasci normal, surda, minha avó que descobriu que eu não escutava. Quando criança apontava e depois com cinco para sete anos comecei a ter contato [com LIBRAS]. [No culto] é melhor ter intérprete, porque assim fica mais fácil de entender as informações. [Não ter a audição] é tão natural que não vejo dificuldades. No contexto em que vivo nunca sofri nenhum tipo de preconceito e tenho ajuda da minha família para resolver os problemas, porque nem todos os lugares têm acessibilidade.” – Eliana Gonçalves Ferreira

“Nasci Surda. Aprendi LIBRAS com 18 anos. [O MAS é importante] para ajudar os surdos a aprenderem mais sobre a Bíblia e sobre Jesus, motivando e divulgando também os sinais da área religiosa. No ônibus, às vezes, sofremos violência; ao dirigir, mesmo tendo adesivo, os motoristas não respeitam; em alguns restaurantes e também para conseguir trabalho é muito difícil. Algo muito importante que aconteceu foi a divulgação de nossos cultos com intérprete de LIBRAS na internet. O que pode alcançar muitos surdos para Jesus no Brasil todo.” – Mary Hellen Almeida de Abreu

LIBRAS

A Língua Brasileira de Sinais tem origem por volta de 1857, quando D. Pedro II convidou um parisiense para vir ao país fundar a primeira escola para meninos surdos. Mas só em 2002 ela foi reconhecida oficialmente.

E foi em Paris que nasceu a primeira Língua de Sinais no mundo, em 1760, também com a abertura de uma escola para surdos.

Cada país tem a sua Língua de Sinais e, ao contrário do que muitos pensam, ela não se resume em gestos que explicam o que o outro fala, mas em uma língua própria completa e complexa. Fonte: Portal Educação