Brasilidade evangélica, dependência e vida
Novelas são uma marca da cultura nacional. Mas poderíamos também dizer que a história do Brasil é uma novela. Um drama que passa do romance à comédia. Que vai de histórias de império a um filme de terror.
Nossa história de colonização é controversa, dúbia, que cruza com a expropriação indígena. Na verdade, não é uma descoberta. É um relato de invasão. Índios perderam suas terras enquanto portugueses trocavam ouro por espelhos.
Na narrativa da Proclamação da República, em 1889, cuja montagem de uma nova estrutura política finda a era colonial, não seríamos mais colônia de Portugal, agora emancipados, seríamos, de fato, Brasil.
A libertação foi econômica e política, porém a herança da ética e da espiritualidade continuou na nossa cultura, em toda a profundidade. Nossa novela não sofreu redenção.
Espiritualmente, herdamos um Cristianismo Romano, idólatra, misturado com a cultura indígena e as religiões de matriz africana. Um sincretismo que gerou religiões próprias e nos fez permanecer em um contexto cultural escravo de uma espiritualidade rasteira que não redime a vida, muito menos o país.
Pouco é sabido que tivemos, no mesmo período da dita descoberta, missões luteranas e calvinistas vindas em 1532 e 1557, respectivamente. Perseguidos e assassinados, temos no martírio dos calvinistas o legado da confissão e Fé da Guanabara. Houve, sim, o primeiro culto. Deus foi louvado no sacrifício de seu povo.
Em seguida, holandeses, americanos e alemães fizeram do Brasil seu campo missionário, e nos fizeram hoje poder dizer que o Brasil tem uma igreja de cultura brasileira, emancipada, que adora a Deus com sua cultura redimida. Dos americanos, temos Ashbel Green Simonton, missionário jovem que nos deixou a Igreja Presbiteriana do Brasil.
No ano de celebração de 500 anos da reforma, e no mês que antecede esta memorável data, que é o mês de nossa Independência, que ocorreu em 07 de setembro de 1822, vemos ainda enlaces e algemas em nosso povo, nossa cultura e nossa religião, mesmo a evangélica.
O evangelicalismo brasileiro precisa de uma proclamação de “dependência”. Devemos proclamar a dependência de Deus, das Escrituras, da obra de Cristo e do Espírito Santo a nos guiar. Abandonar o sincretismo, o ocultismo e as teologias que buscam o céu na terra, libertação social ou as bênçãos materiais que não nos salvarão perante o juízo.
Nossa fé precisa ainda e mais do que nunca mudar a ética social e influenciar nossa sociedade pelos valores do Reino de Deus, pois já vimos que os reinos proclamados não deram frutos dignos.
Hoje, estamos diante do colapso que nossa cultura caída gerou. Sexo, drogas, política corrupta e a música que quiser colocar no final da frase.
Estamos em um colapso de governança, em que muitos esperam da república, do governo e do estado o sustento que só Deus dá. Entre mitos e guerreiros do povo Brasileiro, não se salva um. Entre os presidentes e a presidente alternamos impeachments e vergonha.
Somos conhecidos pela sensualidade e caipirinha e esquecemos da nossa hospitalidade, humor e a beleza de um povo que expressa sua riqueza natural presente na geografia do país. Sim, o Brasil é mais que samba. Somos peregrinos, porém plantados aqui; devemos buscar ver a manifestação de Deus na cultura, pois Deus se manifesta assim em uma graça comum a todos.
O evangelho, portanto, não pode ser adaptado, pois é supracultural. Graça especial. Deve o Evangelho redimir a cultura e, nós evangélicos, redimidos pela Palavra, alterar aquilo da nossa cultura que não honra a Deus, buscando em nossa brasilidade a manifestação plena de louvor a Deus e a seu filho Jesus, nosso Senhor.
Somos brasileiros, com muito orgulho e amor. Não desistimos nunca, principalmente nós, evangélicos brasileiros.
Pr. Bruno Barroso
Pastor Auxiliar