Evangelho e cultura: conformar ou confrontar?
Pr. Luís Fernando Nacif
Muitos associam o Cristianismo ou ao menos a figura de Jesus a um comportamento pacífico, muitas vezes passivo. No imaginário de boa parte da população está a ideia de que ser cristão é simplesmente dar a outra face quando agredido e andar a segunda milha quando injustiçado. Mas ao mesmo tempo vemos nos evangelhos palavras duras de Jesus como “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.” (Mateus 10:34) Fora de seu contexto pode parecer uma declaração estranha, mas Jesus alerta neste texto para a importância de se priorizar o compromisso com Ele e o evangelho acima de qualquer outro valor. E isto inclui a cultura em que vivemos.
Viver nesta geração é conviver com sua cultura e todas as tentativas de assumir um comportamento de isolamento resultaram em aberrações e na formação de seitas. A conhecida exortação de Paulo nos convoca para uma atitude contrária à conformação – “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” (Romanos 12:2a); e, aliada ao ensino de Jesus de que devemos ser “sal da terra” e “luz do mundo” em nossa geração (Mateus 5:13-16), podemos sem receios concluir que Deus espera de nós uma disposição para confrontar nossa cultura naquilo que ela não se alinha à Sua Palavra.
Confrontar a cultura não é “marretar” aqueles que tentam empurrar cultura adentro assuntos como o aborto, o homossexualismo e a descriminalização da maconha, mas, sendo contrário a tudo isto, viver de tal forma que valores bem mais sutis como o uso “light” da mentira, a entrega ao consumismo, ou ter os olhos fechados ao necessitado não achem lugar em nossa agenda.
Quando lemos sobre os primórdios da história do cristianismo, vemos que a grande força dos convertidos daqueles dias estava em viver de uma forma diferente – tratando o “inferior” com respeito, amando o próximo, ajudando o necessitado, vivendo em unidade apesar das diferenças – e que este “novo” estilo, bem diferente dos valores comumente aceitos pela população do Império Romano, era um grande aliado na pregação do evangelho da salvação em Jesus Cristo. A chamada Igreja Primitiva era pacífica, mas de modo algum passiva diante dos desafios da cultura romana, o que também aconteceu ao longo da história, de forma mais intensa ou mais frouxa, dependendo da época, mas sempre tendo na comunidade genuinamente cristã, uma contracultura transformadora (por genuína, digo aqueles que realmente seguiam o ensino de Cristo, e não os que carregavam apenas o título).
Hoje, cabe a nós formular (e responder) algumas perguntas para nossa geração de cristãos: – Quais são os aspectos da nossa cultura que precisam ser confrontados? – Quais são os aspectos da nossa vida que já cederam a esta cultura anticristã e que precisamos mudar urgentemente?
Viver a contracultura do evangelho de Jesus mergulhados numa cultura que se afasta cada vez mais do padrão cristão é um grande desafio, mas nunca foi diferente. O autor de Hebreus fala de “homens dos quais o mundo não era digno” (Hb 11:38), porque optaram por viver o evangelho até as últimas consequências, com a certeza de que algo muito superior tinham ao seu alcance.
“Irmãos, sede meus imitadores, e atentai para aqueles que andam conforme o exemplo que tendes em nós; porque muitos há, dos quais repetidas vezes vos disse, e agora vos digo até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo; cujo fim é a perdição; cujo deus é o ventre; e cuja glória assenta no que é vergonhoso; os quais só cuidam das coisas terrenas. Mas a nossa pátria está nos céus, donde também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o corpo da nossa humilhação, para ser conforme ao corpo da sua glória, segundo o seu eficaz poder de até sujeitar a si todas as coisas.” (Filipenses 3:17-21)